1/5/2019 11:26

Globo manda jornalistas censurarem entrevista de Lula

1763 visitas - Fonte: Folha

Este noticiário apurou com jornalistas da Globo que houve uma orientação da direção da emissora para que não se repercutisse a entrevista dada pelo ex-presidente Lula na Polícia Federal, na última sexta-feira, em Curitiba, aos jornais “Folha de S.Paulo” e “El Pais”, nas figuras de Mônica Bergamo e Florestan Fernandes Jr.. A recomendação chegou sem justificativas. Aos profissionais, apenas foi enfatizado, de forma verbal, que o assunto não deveria constar dos noticiários e que a emissora não tem interesse em pedir, ela própria, uma entrevista com Lula.







Procurada por esta jornalista para comentar o caso, a Globo, por meio de sua assessoria de comunicação, negou qualquer orientação nesse sentido, sem contudo justificar a ausência da notícia em seus telejornais.







Fato é que o assunto, que esteve entre os mais comentados nas redes sociais na sexta e alcançou as páginas de publicações internacionais como “The New York Times”, “Washington Post”, “Le Monde”, “Le Figaro”, “Clarín”, não foi mencionado por noticiário algum da emissora nem no portal G1 nem na GloboNews, seja em reportagens ou comentários de colunistas.



Na capa do jornal “O Globo” desta segunda-feira, o cartunista Chico Caruso faz a única menção ao fato, discretamente, só para entendedores do assunto, com uma charge de Lula dentro de uma cela, vestido com o figurino do Super Homem. Na entrevista, Lula disse que prefere morrer na cadeia a perder sua dignidade, a fim de provar sua inocência e desmascarar o ex-juiz Sergio Moro.



A intermediários da ordem para não se tocar no assunto na Globo, algumas chefias tentaram justificar aos subalternos que nada de novo haveria na entrevista do ex-presidente que pudesse valer sua repercussão, o que definitivamente não corresponde à realidade.



Solicitada por mais de uma vez, a entrevista chegou a ser alvo de debate sobre censura imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF), até porque não foi vedado a outros presidiários, em casos anteriores, dar entrevistas de dentro da prisão.







Também foi a primeira vez que Lula pode manifestar publicamente sua percepção sobre o novo presidente, Jair Bolsonaro, e seu governo, a quem tratou como “um bando de maluco”. O ex-presidente criticou os erros de português do juiz Sérgio Moro, que o condenou à sentença agora em cumprimento pelo caso do triplex de Guarujá, e pela primeira vez falou que pretende “desmascarar” o ex-magistrado e atual ministro da Justiça.



Nada, acerca dessas personalidades, havia sido dito anteriormente, assim como a dor pela perda do neto Arthur e a percepção de que sua mulher, Marisa Letícia, morreu em decorrência de todas as acusações feitas a ele e à família.



Não há, que eu me recorde, caso em que a Globo tenha se destacado com posição editorial similar à da Record, na contramão do restante da imprensa. Uns falaram bem, outros falaram mal, uns outros apenas reproduziram suas falas, mas a omissão do assunto só ocorreu na Globo e na Record.







Apenas a TV de Edir Macedo, entre os veículos nacionais, acompanhou a Globo na decisão editorial de ignorar a entrevista do ex-presidente, lembrando que a Record é tratada por Bolsonaro como grande aliada, foco prioritário para as entrevistas do presidente, enquanto a Globo é vista como “inimiga”, termo textualmente dito pelo presidente sobre a emissora em um áudio vazado durante a crise que antecedeu a saída de Gustavo Bebianno do governo (“Como é que você coloca os nossos inimigos para dentro de casa?”, perguntou o presidente ao ex-ministro, sobre uma reunião agendada com o vice-presidente de Relações Institucionais da Globo, Paulo Tonet Camargo, em fevereiro, no Palácio do Planalto – o compromisso foi cancelado a pedido de Bolsonaro).

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