633 visitas - Fonte: O Globo
O novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Alvaro Pereira Leite, aparentemente tem um perfil menos incendiário que o antecessor Ricardo Salles, que pediu exoneração na quarta-feira, acossado por graves denúncias envolvendo suspeitas de exportação ilegal de madeira e favorecimento de madeireiras. Leite era secretário da Amazônia na gestão Salles e, antes de ir para o governo, foi conselheiro por 20 anos da Sociedade Rural Brasileira (SRB).
Após dois anos e meio de gestão ambiental desastrosa, qualquer aceno de mudança merece crédito. É preciso, contudo, ver o que mudará de fato, se é que algo mudará. Como mostrou reportagem do GLOBO, Leite deverá manter a equipe de Salles, sob o argumento de que faz um trabalho técnico na “nova visão ambiental” implementada pelo antecessor.
A tarefa do novo ministro é árdua, diante do rastro de destruição de Salles. A começar pelo desmantelamento de órgãos como Ibama e ICMBio — e o consequente enfraquecimento da fiscalização. Não à toa, o número de multas tem caído, ao passo que o volume de denúncias aumenta. Chegou-se ao ponto de retirar a autonomia de fiscais, exigindo que as multas passem por uma reavaliação antes de efetivadas. Na prática, ficou mais difícil punir.
Sob a gestão Salles, o país bateu sucessivos recordes de desmatamento e queimadas, transformando em cinzas a imagem do país no exterior e trazendo prejuízos para o agronegócio, num mercado cada vez mais regido pelas boas práticas ambientais. Numa atuação caricata, Salles preferia demonizar as ONGs e questionar dados científicos que mostravam o avanço da devastação. Nas poucas vezes em que decidiu agir, foi nefasto. Quando o Centro-Oeste era consumido pelas chamas no ano passado, autorizou, no combate ao fogo, o uso de um produto químico criticado pelo próprio Ibama, devido aos danos ao meio ambiente.
O maior feito de Salles ficou gravado para a posteridade na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando exortou o governo a aproveitar o foco na pandemia para “passar a boiada” sobre normas ambientais. Assim foi feito em inúmeros casos, como na decisão que revogou a proteção a restingas e manguezais, absurdo que só não seguiu adiante porque o STF considerou o ato inconstitucional. Ao mesmo tempo, avançou na Câmara a legislação que enfraquece o licenciamento ambiental, sempre em nome de uma pretensa “facilidade” para fazer obras e estimular negócios.
Claro que a substituição de Salles por Leite pode ser um ponto de inflexão nesse desastre. Salles era, porém, apenas o executor da política ambiental ditada pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro de fato. Quando o então superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, entrou com notícia-crime contra Salles, acusando-o de atrapalhar as investigações sobre a maior apreensão de madeira da história, que fez Bolsonaro? Mandou exonerar o delegado, transferido para Volta Redonda. Franco Perazzoni, delegado federal que investiga contrabando de madeira, perdeu o cargo de chefia depois de empreender buscas contra Salles. O sinal do governo tem sido claro: não está do lado da lei. Como o ministro Marcelo Queiroga na Saúde, Leite terá o desafio de equilibrar uma balança sensível, em que um dos pratos já pende pesadamente para um lado, graças à mão de Bolsonaro
Follow @ThiagoResiste
APOIE O PLANTÃO BRASIL - Clique aqui!
Se você quer ajudar na luta contra Bolsonaro e a direita fascista, inscreva-se no canal do Plantão Brasil no YouTube.