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Jair Bolsonaro nunca confiou em Hamilton Mourão.
Quando, candidato à Presidência, o ex-capitão foi vítima de atentado à faca, deu ordens do leito do hospital para que o filho Eduardo Bolsonaro assumisse a campanha de modo a impedir o protagonismo do general. Já no governo, por razões que só ele conhecia, passou a acreditar que o vice queria derrubá-lo e chegou a desconfiar que o general grampeava suas conversas no Palácio da Alvorada.
Agora, as suspeitas presidenciais começam a transbordar para além do território de Hamilton Mourão, desde o início do governo confinado ao Anexo II do Palácio do Planalto.
A revelação feita pelo site "O Antagonista" de que Ricardo Roesch, chefe da assessoria parlamentar do general, teria abordado o chefe de gabinete de um deputado pelo WhatsApp para discutir a possibilidade de impeachment do presidente não chocou Bolsonaro pelo seu valor de face.
Até pela precariedade do método, ninguém acredita que o assessor tenha agido a mando do chefe (Roesch foi demitido por Mourão na sexta-feira; ele nega ter escrito as mensagens e afirma ter tido seu celular "hackeado").
Mas tampouco alguém duvida que uma "conspiração dos assessores", como a trapalhada vem sendo chamada no Palácio do Planalto, só vingaria em condições ambientais favoráveis, caso pressuposto da estufa do anexo II do mesmo prédio (onde está o gabinete de Mourão) — e talvez de outros ambientes.
É onde entra a pulga que foi parar atrás da orelha de Bolsonaro.
Em determinado trecho da mensagem que o chefe da assessoria parlamentar do vice-presidente nega ter escrito, consta que "Mourão dividiu a ala militar".
Diz o texto: "Antes, Heleno [general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional e o mais próximo ministro militar de Bolsonaro] dominava, agora estão divididos — capitão está errando muito na pandemia. General Mourão é mais preparado e político".
A pulga consiste na suspeita de que existam, no entorno do presidente, militares que se aliaram a Mourão e agora conspiram contra Bolsonaro.
Um assessor presidencial diz não ter dúvidas de que esses militares existem: "É preciso agora saber se eles estão dentro ou fora do Palácio do Planalto".
E, claro, quantas estrelas carregam nos ombros.
As teorias conspiratórias sempre atormentaram as noites de Bolsonaro.
Agora, o ex-capitão tem um bom motivo para passá-las em claro.
Hoje, em meio à batalha na reta final das eleições do Congresso, em que Rodrigo Maia afirmou ter a carta do impeachment aprovada em sua manga, Mourão foi às redes manifestar apoio ao capitão:
Como Vice-Presidente, afirmo que não há nenhuma motivação para a aceitação de pedido de impeachment do nosso PR @jairbolsonaro, o qual tem trabalhado incansavelmente para superar os desafios que o século XXI impõe ao Brasil.
— General Hamilton Mourão (@GeneralMourao) February 1, 2021