Mesmo acuado por busca e apreensão, advogado denuncia que morte de modelo tem ligação com mensalão tucano em Minas

Portal Plantão Brasil
22/12/2013 09:18

Mesmo acuado por busca e apreensão, advogado denuncia que morte de modelo tem ligação com mensalão tucano em Minas

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Dino, em foto publicada na CartaCapital



Advogado acusa réu do mensalão tucano de ser mandante da morte de modelo



Por Lúcia Rodrigues, em Belo Horizonte*



Um homem acuado e com medo de morrer. É assim que o advogado Dino Miraglia se define.



Até 21 de agosto ele advogava para Nilton Monteiro, o delator do mensalão tucano, que está preso no complexo penitenciário de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, acusado de ser falsário.



Nilton tinha intimidade com o ninho tucano em Minas Gerais. Participou de esquemas. Para figurões do PSDB, trata-se de um chantagista que decidiu ganhar dinheiro com informação, o que ele contesta.



O advogado Miraglia deixou a defesa de Nilton Monteiro após ter a residência invadida por um grupo de dez delegados da Polícia Civil de Minas Gerais que buscavam, segundo ele, um documento falso. O episódio lhe custou um casamento de décadas, 26 anos de união e seis, de namoro. Assustadas com a operação policial, que envolveu até helicóptero, mulher e filha resolveram se afastar dele.



A esposa já o havia advertido diversas vezes para recusar ações que atingissem políticos mineiros. Dino não ouviu os conselhos e continuou advogando para o delator do mensalão tucano.



A invasão da polícia para cumprimento de mandado de busca e apreensão foi a gota d’água para a família. Antes disso, ele já havia sido ameaçado de morte várias vezes devido à atuação nessas causas.



Apesar de não citar o nome de quem o ameaçou com uma pistola ponto 40, o advogado deixa transparecer que se trata de Márcio Nabak, delegado-chefe do Departamento Estadual de Operações Especiais, o Deoesp, de Minas Gerais.



O policial seria aliado de políticos denunciados no mensalão tucano, segundo o delator do esquema, Nilton Monteiro.







O advogado diz que a invasão policial teve forte impacto psicológico na família.



Ele descreve a cena que viu:











Cristiana, a modelo



“Mula” da corrupção tucana



No currículo profissional, Dino acumula ainda a defesa da família da modelo Cristiana Aparecida Ferreira assassinada, em agosto de 2000, nas dependências de um flat no centro de Belo Horizonte, por um ex-namorado, Reinaldo Pacífico de Oliveira Filho.



É um caso bizarro. Inicialmente a morte da modelo foi considerada “suicídio”.



Isso apesar desta descrição do corpo de Cristiana:







Quando nova perícia foi feita, a polícia passou a dizer que Cristiana foi vítima de crime passional.



Mas o advogado Dino sustenta que tratou-se de queima de arquivo.



Segundo ele, Cristiana tinha papel central no esquema de corrupção do PSDB em Minas Gerais.



Era ela quem transportava o dinheiro das transações do mensalão tucano.



Na linguagem popular, Cristiana era “mula” do esquema de corrupção.



O advogado acusa o ex-ministro do Turismo e das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, um dos réus do mensalão tucano, de ser o mandante do crime.



De acordo com ele, Walfrido teria mandado matar Cristiana porque ela “sabia demais”.



“A morte da modelo foi encomendada”, frisa.



No julgamento do acusado de matar Cristiana, o ex-ministro e ex-vice-governador de Minas (no mandato de Eduardo Azeredo, 1995-1999) foi convocado a depor como testemunha, mas não compareceu. Alegou que estava em viagem aos Estados Unidos.



Acusado pelo crime, Reinaldo Pacífico de Oliveira Filho, um ex-namorado da vítima, está solto até hoje, apesar de ter sido condenado por júri popular a 14 anos de prisão e de a segunda instância ter ratificado a decisão.



“Nunca vi corno de garota-de-programa” que mata dois anos depois do fim do relacionamento, diz o advogado.



Segundo Dino, o assassino está em liberdade graças a um habeas corpus concedido de ofício pela ministra do STJ, o Superior Tribunal de Justiça, Laurita Vaz.



De acordo com o advogado, Cristiana aparece numa lista de pagamentos supostamente compilada pelo publicitário Marcos Valério, como beneficiária de mais de R$ 1,8 milhão.



Valério foi recentemente condenado pelo STF por conta do papel que desempenhou no mensalão petista: segundo a acusação, as empresas dele forjaram contratos de publicidade para encobrir desvio de dinheiro público em benefício do PT e de aliados.



O mesmo tipo de ação é atribuída a Valério no mensalão tucano, que é de 1998, quando Eduardo Azeredo fracassou na tentativa de se reeleger governador de Minas e FHC se reelegeu presidente.



Dino pediu o apensamento dos papéis nas quais a modelo é mencionada ao processo do mensalão tucano, que corre no STF e já inclui a chamada lista de Furnas.

Esta lista é uma relação detalhada de constribuições de campanha feitas com dinheiro que funcionários da estatal teriam arrancado de fornecedores da empresa.



Vários nomes se repetem nas duas listas — a de Valério e a de Furnas.



O objetivo da ação do advogado é mostrar a relação entre a morte da modelo e o esquema de corrupção tucano.



Segundo laudo da Polícia Federal, a lista de Furnas não foi forjada.



Já a lista de Marcos Valério, que Dino Miraglia encaminhou ao ministro Joaquim Barbosa para anexar ao processo do mensalão tucano, não tem laudo de autenticidade da PF.



O documento entregue a Barbosa seria uma cópia, o que impede perícia.



Medo no ar



Dino Miraglia relutou em conceder entrevista. Visivelmente assustado, lançou mão de subterfúgios para protelar o encontro, que ocorreu no começo da tarde do último dia 5.



O primeiro contato da reportagem ocorreu em 2 de dezembro, por meio de celular, e parecia normal.



Do outro lado da linha, o advogado informava que estava em São Paulo e que retornaria à capital mineira naquela noite. Marcou o encontro para o dia seguinte, às 10 horas da manhã, em seu escritório.



Pela porta de vidro opaco da sala de espera do gabinete de advocacia, vimos o vulto de um homem alto sair.



Minutos depois, a secretária recebeu um torpedo de Dino dizendo que não poderia comparecer ao escritório, porque teria de atender flagrante envolvendo um cliente.



Depois de várias outras tratativas telefônicas, quando já não contávamos com a entrevista, o advogado surpreendentemente concordou, questionando com voz de preocupação: “Você pode vir aqui, agora (para o escritório)?”



O medo de Dino não é infundado. A política mineira é sui generis. Em nossa passagem por Belo Horizonte, constatamos situações que parecem justificar o receio. Alguns dos entrevistados só concordaram em falar em off (sem se identificar publicamente). No caso de uma das fontes, chegou às suas mãos, enquanto conversava conosco, um calhamaço de papéis com transcrições de diálogos de conversas grampeadas pela polícia mineira.



O monitoramento de adversários políticos em Minas faz lembrar o regime de exceção vivido durante a ditadura militar.



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