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Marcos Nobre, professor da Unicamp, escreve que a atual crise política é o maior tumulto político desde a morte de Tancredo Neves, em 1985, e diz que seu saldo final é a "sensação de que foi tudo em vão". Para Nobre, ninguém acha que o impeachment ou sua derrota irão ser a solução, e que os atores que produziram o processo de impeachment parecem que, agora, o consideram uma escolha que "levará a uma falsa saída".
Nobre diz, em sua coluna no Valor, que foi o senador Aécio Neves (PSDB) quem abriu a porta do impeachment, ao recusar-se a aceitar das eleições de 2014. No entanto, o professor pondera que Dilma Rousseff (PT) errou ao confundir o PMDB com Michel Temer e entregar para o vice a articulação política do governo, dizendo também que a presidente "praticou o esporte de altíssimo risco político do estelionato eleitoral". Também analisa o papel do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), no processo de impeachment, que "estava enterrado no final do ano passado". Leia mais abaixo:
Do Valor
Possíveis lições de um fracasso coletivo
Marcos Nobre
O saldo do maior tumulto político desde a morte de Tancredo Neves, em 1985, é a sensação de que foi tudo em vão. Ninguém acha que o impeachment vai resolver, ninguém acha que a derrota do impeachment vai resolver. Os mesmos 60% que querem a renúncia de Dilma, querem que Temer tome idêntico rumo. Quem é contra o impeachment não é a favor do governo. Quem é a favor do impeachment não quer colocar Temer na presidência.
Acontece que a encalacrada atual foi ativamente buscada no último ano e meio por milhões de pessoas. Ninguém pode incluir um acontecimento como a morte de Tancredo no jogo político, não é previsível. O processo de impeachment, no entanto, foi produzido pelos mesmos atores e atrizes que agora parecem tomá-lo como uma falsa escolha que levará a uma falsa saída.
Que não se venha dizer que o fracasso do impeachment se deve somente às artimanhas autointeressadas da política oficial. Ou vamos agora esquecer a guerra sem fim em torno do número de pessoas presentes na Avenida Paulista? A insensatez é coletiva. Ou, pelo menos, pertence em igual medida ao sistema político e aos estratos da sociedade que foram às ruas, que postaram e publicaram, que criaram fossos em suas famílias e círculos de amizades. Há culpados e vítimas, com certeza, mas não há inocentes.
Não poder em sã consciência alegar inocência tem, entretanto, a grande vantagem de permitir que a pergunta pelas lições a tirar do fracasso possa ser posta para além das trincheiras artificiais - mas reais - do impeachment. É verdade que a própria ideia de tirar lições é questionável, já que ela depende da aceitação de que se tratou de um fracasso coletivo. Mas o gigantesco e inútil esforço do impeachment parece não contemplar outra possibilidade razoável para quem esteja disposto a travar um debate político minimamente sério.
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