Mercosul comemora 30 anos em cúpula encerrada em meio a discussões homéricas, desentendimentos e saída antecipada de Bolsonaro

Portal Plantão Brasil
26/3/2021 16:20

Mercosul comemora 30 anos em cúpula encerrada em meio a discussões homéricas, desentendimentos e saída antecipada de Bolsonaro

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925 visitas - Fonte: O Globo

O motivo do encontro era a comemoração dos 30 anos do Mercosul, nascido em 26 de março de 1991, mas acabou se transformando num retrato da profunda crise em que o bloco se encontra mergulhado. Discursos desconexos e, no final, um bate-boca explícito entre os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, e Luis Lacalle Pou, do Uruguai, que, na fala mais enfâtica da cúpula presidencial, assegurou que o Mercosul não pode ser uma "carga" nem um "espartilho" para os países que o integram. A resposta de Fernández, que essa semana deixou o Grupo de Lima, foi fulminante: "Se a carga é muito pesada, o mais fácil é descer do barco".







— Terminemos com essas ideias, num momento tão difícil. Não queremos ser uma carga para ninguém, se somos uma carga, que nos deixem — declarou o presidente argentino, num final improvisado, que contrastou com seu discurso de abertura, que foi lido.



O presidente Jair Bolsonaro não acompanhou o momento tenso, já que tinha avisado minutos antes, por WhatsApp, informaram fontes argentinas, que abandonaria o encontro por motivos de agenda. Em sua breve participação, Bolsonaro também pregou, em sintonia com o Uruguai, a modernização do bloco.



Fernández também anunciou a criação de observatórios do bloco sobre democracia e meio ambiente, sem dar mais detalhes sobre as iniciativas. Segundo fontes brasileiras, as propostas não foram previamente conversadas com os demais sócios do bloco. Em Buenos Aires, pelo contrário, fontes argentinas informaram que a ideia de criar um observatório do meio ambiente tem como objetivo rebater críticas à região — leia-se ao Brasil — por parte, sobretudo, da União Europeia (UE). Hoje, a questão meio ambiente é o principal obstáculo para que seja assinado o acordo de livre comércio entre os dois blocos.







As divergências entre os sócios do Mercosul nunca foram tão evidentes numa cúpula presidencial. Sabe-se, faz tempo, que o Uruguai está insatisfeito e pretende flexibilizar o bloco para avançar em negociações comerciais com outros países e blocos. Essa posição é acompanhada pelo governo brasileiro, mas enfrenta resistências da Argentina e do Paraguai. A flexibilização desejada por brasileiros e uruguaios implica, principalmente, modernizar a Tarifa Externa Comum (TEC, que taxa produtos de fora do bloco), e as regras da chamada resolução 32.00, que exije consenso entre os membros do bloco em negociações externas.



Na prática, já se avança em diferentes velocidades, por exemplos, nas atuais negociações com a Coreia do Sul. A Argentina, que insiste em maior proteção à sua indústria nacional — em meio a uma gravíssima crise econômica que, no ano passado, provocou queda de quase 10% do PIB —, avança mais lento. Mas o Uruguai, como explicitou nesta sexta-feira seu presidente, continua insatisfeito.



— Não estamos satisfeitos... O Mercosul tem um peso, mas não pode ser uma carga, um espartilho no qual nosso país não possa se mexer. Já falamos em flexibilização, diferentes velocidades, o Uruguai precisa avançar. Vamos propor formalmente discutir a flexibilização. Precisamos que o Mercosul tome uma decisão — apontou Lacalle Pou.







Os países estão discutindo essa agenda de flexibilização. A próxima reunião importante sobre o assunto será entre os chanceleres, no dia 22 de abril. Para os argentinos, o ritmo do processo é aceitável. Para os uruguaios, não. O Brasil está muito próximo da posição do Uruguai. Já o Paraguai, único país que na cúpula desta sexta pediu a cooperação conjunta para ter acesso a vacinas contra a Covid-19, tem uma posição intermediária. O governo do presidente Mario Abdo Benítez aceita a reforma da TEC, mas quer continuar negociando em conjunto, já que sozinho o Paraguai se sente muito mais fraco.



— Não podemos permitir que as ideologias contaminem o processo, que nos dividam, temos de ser exemplo e deixar um legado de entendimento e tolerância — afirmou Abdo Benítez, tentando acalmar os ânimos entre países que, há muito tempo, não se entendem.



Diante de uma situação sanitária crítica e com um cronograma de vacinação lentíssimo, dada à falta de imunizantes, o presidente do Paraguai - que também enfrenta um pedido de impeachment apresentado recentemente pela oposição - assegurou que é muito importante "ter uma posição firme e unida para conseguir vacinas contra a Covid-19. Trata-se de uma questão chave para nossa sobrevivência".



— O fortalecimento do Mercosul é imprescindível — apontou Abdo Benítez, destoando do clima de rixa entre seus pares.







Já os presidentes do Chile, Sebastián Piñera, e da Bolívia, Luis Arce (ambos países são membros associados do bloco), também se referiram ao drama da pandemia e à necessidade de união entre os países da região. O chefe de Estado o chileno alertou para as novas cepas do coronavírus e o risco de que o mundo enfrente, em breve, outras pandemias.



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