771 visitas - Fonte: Folha de São Paulo
Não é de hoje. O Exército Brasileiro está no fio da navalha desde o início do governo Bolsonaro. Quando oficiais da ativa ocuparam ministérios e outros altos cargos da República, a fronteira entre instituição de Estado e de governo ficou cinzenta. Quando o presidente fez manifestação em defesa do AI-5, na caçamba de uma caminhonete, em frente ao Quartel General, o perigoso caminho da politização da tropa já estava desenhado.
Mas, no domingo (23), Eduardo Pazuello ultrapassou a linha vermelha. Foi a primeira vez que um general da ativa subiu no palanque de um ato político, ao lado do presidente, ambos aliás sem máscara. Pazuello como cidadão e ex-ministro pode expressar-se da forma que quiser. Como general da ativa não. A quebra de hierarquia e de regulamentos das Forças Armadas é apenas um dos problemas. O maior deles é o exemplo.
Se um general pode, um cabo e um soldado também podem. Podem inclusive animar-se a seguir o conselho escroque de um dos filhotes presidenciais e chegar de jipe em frente ao Supremo. Ou ao Parlamento, à sede de um partido de oposição, enfim, podem atuar como agentes políticos independentes da instituição de que fazem parte, a qual é nada menos que o braço armado do Estado.
E o gesto de Pazuello vem num momento bem calculado por Bolsonaro. Em março, a cúpula das Forças Armadas deu um recado ao presidente de que não estava disposta a embarcar em aventuras golpistas. Quando ele demitiu o general Fernando Azevedo do Ministério da Defesa por resistir à politização, os comandantes das três Forças entregaram os cargos em uníssono, num gesto inédito. A mensagem do alto oficialato foi clara. Que Bolsonaro pretenda mobilizar as baixas patentes --sua origem no Exército-- e estimular a quebra de hierarquia é consequência disso. O precedente de Pazuello no caminhão de som caiu como uma luva.
Bolsonaro está no seu pior momento: baixa popularidade, crise econômica e sanitária e a CPI no encalço. Já mostrou mais de uma vez que, quando acuado, seu expediente é dobrar a aposta. Eleva o tom do discurso, denuncia fraudes numa eleição que nem aconteceu e ameaça mobilizar suas milícias e sua influência nas polícias estaduais. Agora dá gestos claros para a quebra de hierarquia no Exército. E, não se enganem, ele não vai parar. A única estratégia que lhe resta é a fuga para a frente.
Por isso, o episódio de Pazuello representa uma encruzilhada tão decisiva para o país. Se o Comando do Exército não o punir de forma exemplar, permitirá um caminho sem volta de politização bolsonarista da tropa, com consequências dramáticas para a República. As próximas horas dirão.
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