O segundo discurso de Dilma, por Daniel Afonso da Silva

Portal Plantão Brasil
1/12/2014 08:21

O segundo discurso de Dilma, por Daniel Afonso da Silva

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O instituto da reeleição impõe ao presidente reeleito um segundo discurso de posse. Desde instaurado, todos os presidentes brasileiros – Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff – foram reeleitos. Todos receberam do povo o convite para seguir no poder. Todos precisaram se reapresentar. A vez da presidente está para chegar.



No embalo dos ganhos do Plano Real, o presidente Fernando Henrique batera seus concorrentes no primeiro turno em 1998. Na esteira dos ganhos sociais, o presidente Lula superou seu adversário do PSDB em 2006 – superou também, vale lembrar e reconhecer, todas as aleivosias radiadas pelo “escândalo do mensalão” eclodido em meados do ano anterior. As razões da vitória da presidente Dilma em 2014 seguem em debate.



O segundo discurso do presidente Fernando Henrique em 1999 e o do presidente Lula em 2007 foram banhados em perplexidade. O príncipe e o metalúrgico frustraram, realçaram ou encantaram muitas esperanças e muitos receios.



O desgaste forjado pelo exercício do poder esgarçou muitas relações. Colaboradores foram substituídos. Alguns no curso do primeiro mandato. Apoios partidários foram modificados. Alianças e amizades, desfeitas. Outras, feitas. A imprensa, impulsionada pelo movimento “Diretas Já” e pelo impeachment do presidente Collor, foi se tornado instrumento implacável na amplificação dos defeitos dos governantes e, conseguintemente, dessas frustrações, encantos e encantos.



Essas dificuldades do poder fizeram dos segundos discursos de posse dos presidentes reeleitos um momento tímido. Taciturno. Quase envergonhado. Discreto. Prudente. Introspectivo.



Assim, ambos os presidentes, Fernando Henrique e Lula, pareciam reconhecer em seu segundo discurso que o uso desbragado de promessas sem cumprir poderia induzir a tempos ainda piores. Os dias presidenciais tinham lhes ensinado, a duras penas, que, demagogia tem limites. A única promessa cabível, no 1º de janeiro de 1999 e 2007, era a aposta de um segundo mandato melhor que o primeiro, sem muito dizer o como.



A experiência vem mostrando que os segundos mandatos foram todos mais difíceis e múltiplos e complexos que os primeiros. E que, portanto, a prudência no discurso reinaugural fora muito importante.



A lua de mel do presidente Fernando Henrique com o Plano Real terminou algumas semanas após sua nova posse em 1999. O segundo mandato do presidente Lula foi marcado pela singela necessidade de gestão da pior crise financeira mundial desde 1929.



Como diz o velho adágio, essas horas, horas de precisão, revelam os grandes líderes. E ambos, à sua maneira, o foram revelados.



De 1999 a 2002, o Brasil viveu momentos horrivelmente difíceis. Teve crises políticas. Crises bancárias. Recorreu ao FMI. Mas não quebrou. Muito menos três vezes. O fantasma do decênio anterior, “a década perdida”, insinuou, é verdade, retornar. Mas esteve longe, muito longe, de reaparecer. A estabilidade política e financeira demonstrou graus importantes de consolidação. A continuação da redemocratização foi mantida. Mesmo que sujeita à internacionalização – leia-se, para o bem e seu contrário, financeirização e a ampliação da participação do país na globalização, muita vez, muito selvagem.



De 2007 a 2010, malgrado todas as dificuldades, o Brasil viveu seu grande momento. O futuro parecia ter chego. O país took off. O presidente Lula era “o cara”, no dizer do presidente Obama. Mesmo tendo tido crescimento negativo em 2009, o protagonismo brasileiro na América do Sul, no Mercosul, nos Brics, no G20 foi absolutamente incontestável. Muito desse sucesso e autoconfiança ajudou alçou a candidatura e eleição da indicada do presidente em exercício.



Visto em perspectiva, o discurso e a cerimônia de posse da presidente Dilma Rousseff em 2011 teve muitos ares do déjà vu da recondução de cargo. Muito estilo 2007 – e algo de 1999. Naquele momento, 1º de janeiro de 2011, a ex-ministra Dilma Rousseff era, inegavelmente, muito Lula da Silva, muito PT, muito João Santana.



O 1º de janeiro de 2015 tem tudo para ser muito diferente.



De 2011 a 2014, a presidente Dilma foi virtualmente se “descolando” do presidente Lula e do PT. Foi ganhando autonomia. Foi formando seu próprio capital político. Seu próprio legado. Sua história na História do Brasil como presidente e política. Tudo isso a despeito da imprensa.



Existe, desde sempre, é preciso ressaltar, uma imensa má-vontade da imprensa brasileira com relação à presidente. Ao menos desde o nascimento da “mãe do PAC” como bandeira política foi sendo forjado um perfil incerto e ingênuo de Dilma Rousseff.



É possível ler e/ou ouvir diariamente nos periódicos brasileiros a afirmação que a define como mais afeita à gestão que à política. Alguns mais exaltados afirmam diretamente que a presidente da república não gosta de política e teria ojeriza à negociação. Nessa interpretação, ela seria mais um animal administrador que um animal político.



A pergunta que nossos jornalistas e articulistas precisam responder e com urgência é como um alguém que detesta ou não gosta ou é pouco afeita à política entra para luta armada contra o regime militar, ajuda na redemocratização, tem como mestre Leonel Brizola, exerce cargos em secretarias e ministérios, muda de partido, vira presidente da república e depois se reelege?



Mas de volta à afirmação da identidade política da presidente, ao menos dois momentos recentes – sem regressar à faxina de 2011 e tudo que veio em seguida com destaque para a excelente gestão dos acontecimentos de junho de 2013 – podem servir de destaque.



Na campanha eleitoral para a sua reeleição em 2014, logo nas primeiras semanas, a presidente Dilma fizera um importante mea culpa ao reconhecer que a crise de 2008 não fora mera marola como sugerira o presidente Lula. Outro momento importante ocorreu na escolha da nova equipe econômica, indicando para o Ministério da Fazenda, um apoiador explícito da campanha de seu adversário Aécio Neves – Joaquim Levy foi um dos signatários do documento Sob a luz do sol: uma agenda para o Brasil do grupo de formulação do Centro de Debate de Políticas Públicas –, desaprovado por parte importante e majoritária do PT.



Somado isso, a mostra forte da marca Dilma deverá aparecer em seu novo discurso de posse no dia 1º de janeiro de 2015. Nele a presidente terá a oportunidade apresentar a linha mestra e necessária do novo tempo aberto depois da estabilização política (1985-1994), financeira (1995-2002) e social (2003-2013).



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