Ex-ministro das comunicações Fábio Wajngarten, na mira da CPI, ataca Pazuello : ´´Incompetência e ineficiência``para salvar Bolsonaro

Portal Plantão Brasil
23/4/2021 16:56

Ex-ministro das comunicações Fábio Wajngarten, na mira da CPI, ataca Pazuello : ´´Incompetência e ineficiência``para salvar Bolsonaro

0 0 0 0

692 visitas - Fonte: Veja

O publicitário Fabio Wajngarten conheceu Jair Bolsonaro em 2016, num jantar na casa de Meyer Nigri, dono da construtora Tecnisa, em São Paulo. Na época, o então deputado já estava em plena campanha presidencial, embora quase ninguém levasse isso muito a sério. Empresário da área de comunicação, Wajngarten foi imediatamente fisgado pelas propostas do ex-ca­pitão, que prometia operar grandes transformações no Brasil, principalmente na área de costumes. Desde então, os dois não se afastaram mais.







Em 2018, o publicitário ciceroneou o candidato em seus primeiros encontros com proprietários de órgãos de imprensa. Logo depois, quando Bolsonaro sofreu o atentado à faca, foi ele quem cuidou de boa parte da logística do atendimento médico. Em 2019, assumiu o comando da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). O cargo estratégico, combinado com a sólida relação de confiança construída com o presidente, franqueou a Wajngarten trânsito livre em alguns dos gabinetes mais inacessíveis do Palácio do Planalto — aqueles onde se desenrolam histórias que raramente chegam ao conhecimento do grande público.



Depois de quase dois anos, Wajngarten deixou a Secom, no mês passado, no ápice da crise sanitária que já matou mais de 380?000 brasileiros. Oficialmente, sua demissão foi atribuída à necessidade de reconstruir a relação desgastada do presidente com a imprensa. Mas esse não foi o motivo principal. Durante meses, o ex-secretário travou um intenso duelo com o ex-mi­nistro da Saúde Eduardo Pazuello. Wajngarten apontava o general e a equipe dele como responsáveis diretos pelo atraso da vacinação contra a Covid-19. No auge do conflito, circularam notícias de que o chefe da Secom estaria se envolvendo em assuntos do ministério movido por interesses pessoais inconfessos. “Foi a gota d’água para eu sair”, diz Wajngarten. Na semana passada, o Congresso criou a CPI que vai investigar se o governo Bolsonaro se omitiu no enfrentamento da pandemia ou se praticou alguma ação que possa ter agravado o problema — e o ex-secretário deve ser um dos primeiros convocados a depor sobre isso. Parlamentares acreditam que ele tem informações valiosas que podem comprometer gente graúda do governo federal. E ele tem.







Em setembro do ano passado, quando a Covid-19 já tirava a vida de 750 brasileiros por dia, o publicitário soube que a farmacêutica Pfizer havia encaminhado uma carta ao governo oferecendo 70 milhões de doses de sua vacina, que se encontrava em fase adiantada de testes nos Estados Unidos. O Ministério da Saúde, porém, não se interessou pela proposta nem sequer respondeu a carta. Wajngarten levou o caso ao conhecimento do presidente Bolsonaro, que o autorizou a negociar pessoalmente as bases de um contrato com a empresa. O secretário se reuniu com diretores da Pfizer, discutiu cláusulas, conseguiu reduzir preços, obteve compromissos de antecipação da entrega de volumosos lotes do imunizante, mas o acordo não prosperou.



“É verdade que a vacina ainda não estava aprovada pela Anvisa. Mas o Ministério da Saúde poderia ter deixado as vacinas encomendadas, armazenadas, com um pipeline de entregas”



Estima-se que, se a compra tivesse sido efetivada, a vacinação no Brasil poderia ter começado em dezembro, ou seja, estaria hoje numa etapa muito mais adiantada. “Milhares de mortes poderiam ter sido evitadas”, atesta o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz. Para a oposição, essa conexão dos fatos é uma prova concreta de que o governo Bolsonaro foi absolutamente negligente no combate à pandemia e responsável direto pela imensa tragédia sanitária em que o país se encontra.







Em entrevista exclusiva a VEJA, o ex-secretário confirmou que, em meados do segundo semestre do ano passado, participou ativamente de esforços para viabilizar a compra da vacina da Pfizer. Wajngarten guarda e-­mails, registros telefônicos, cópias de minutas do contrato e ainda afirma ter um rol de testemunhas do gabinete presidencial que podem comprovar tudo que está dizendo. O acordo não teria avançado por “incompetência” e “ineficiência” dos gestores do Ministério da Saúde comandados pelo general Eduar­do Pazuello, também demitido do cargo no mês passado, depois de circularem rumores no Planalto sobre um suposto mandado de prisão que seria expedido contra ele.



Na mesma medida em que critica o Ministério da Saúde, porém, Wajngarten poupa o presidente da República. Afirma que Bolsonaro sempre se preocupou com todos os lados da crise, especialmente na parte que se refere aos mais pobres, e sempre disse que compraria as vacinas quando elas fossem aprovadas pelos órgãos sanitários. O problema do presidente, segundo ele, são assessores que lhe repassariam informações erradas e distorcidas. Para o ex-secretário de Comunicação do Planalto, a pandemia pode ter impactos nas eleições de 2022.







A seguir os principais trechos da entrevista.



-O que o secretário de Comunicação tinha a ver com compra de vacinas?



Fui procurado por um dono de veículo de comunicação que me disse que a Pfizer havia enviado uma carta ao governo oferecendo as vacinas contra a Covid. Na carta, a empresa falava do avanço de suas pesquisas, dos contratos que já havia assinado com o governo americano e com a Europa para a venda de vacinas e oferecia ao Brasil prioridade no fornecimento, a partir do instante em que o imunizante fosse aprovado pelos órgãos sanitários. Liguei para a sede e me apresentei. No mesmo dia, o CEO da empresa me retornou. Foi uma conversa surpreendente. Ele relatou o que havia acontecido — ou melhor, o que não havia acontecido. O Ministério da Saúde nem sequer havia respondido à carta. Sou filho de médico e sei o que representa a tradição da Pfizer, sei quanto a vacinação é importante e também como isso poderia implodir ou incensar a imagem do presidente da República.







-E o que o senhor fez?



Me coloquei à disposição para negociar com a empresa, antevendo o que estava para acontecer: o presidente seria atacado e responsabilizado pelas mortes. A vacina da Pfizer era a mais promissora, com altos índices de eficácia, segundo os estudos. Precisávamos da maior quantidade de vacinas no menor tempo possível. E dinheiro nunca faltou. Então, eu abri as portas do Palácio do Planalto. Convidei os diretores da empresa a vir a Brasília. Fizemos várias reuniões. Fui o primeiro a ver a caixa que armazenava as vacinas a menos 70 graus. Eu também levei a caixa para o presidente Bolsonaro ver. Expliquei que aquilo não era um bicho de sete cabeças, como alguns técnicos pintavam.



-E por que as negociações não avançaram?



As negociações avançaram muito. Os diretores da Pfizer foram impecáveis. Se comprometeram a antecipar entregas, aumentar os volumes e toparam até mesmo reduzir o preço da unidade, que ficaria abaixo dos 10 dólares. Só para se ter uma ideia, Israel pagou 30 dólares para receber as vacinas primeiro. Nada é mais caro do que uma vida. Infelizmente, as coisas travavam no Ministério da Saúde.







-Travavam por quê?



Existiam as três famosas cláusulas leoninas do contrato. A primeira delas, o foro para a solução de conflitos. A Pfizer queria uma câmara arbitral de Nova York. A segunda era a isenção de responsabilização e indenização. E a terceira era a edição de uma medida provisória em que o Brasil garantisse com ativos potenciais danos financeiros. Essas foram as cláusulas que dificultaram a negociação no ano passado. Houve várias reuniões para discutir e tentar superar esses obstáculos. Cheguei a convidar o Filipe Martins, assessor internacional do Planalto, para participar de algumas dessas reuniões com os diretores da empresa, ouvir as coisas que eram ditas, as dificuldades que eles relatavam e apresentar possíveis soluções para elas. Minha preocupação era contornar o excesso de burocracia e de pessoas despreparadas que estavam cuidando dessa questão.



-O senhor está se referindo ao ministro Eduardo Pazuello?



Nunca troquei mais do que um boa-tarde com o ministro. Seria leviano da minha parte falar dele.







-E o que o presidente dizia sobre essas negociações?



O presidente sempre disse que compraria todas as vacinas, desde que aprovadas pela Anvisa. Aliás, quando liguei para o CEO da Pfizer, eu estava no gabinete do presidente. Estávamos nós dois e o ministro Paulo Guedes, que conversou com o dirigente. Foi o primeiro contato entre a Pfizer e o alto escalão do governo. Guedes ouviu os argumentos da empresa e, depois, disse que “esse era o caminho”. Se o contrato com a Pfizer tivesse sido assinado em setembro, outubro, as primeiras doses da vacina teriam chegado no fim do ano passado.



APOIE O PLANTÃO BRASIL - Clique aqui!

Se você quer ajudar na luta contra Bolsonaro e a direita fascista, inscreva-se no canal do Plantão Brasil no YouTube.



O Plantão Brasil é um site independente. Se você quer ajudar na luta contra o golpismo e por um Brasil melhor, compartilhe com seus amigos e em grupos de Facebook e WhatsApp. Quanto mais gente tiver acesso às informações, menos poder terá a manipulação da mídia golpista.


Últimas notícias

Notícias do Flamengo Notícias do Corinthians