553 visitas - Fonte: UOL
O novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tomará posse no próximo dia 20 com a promessa de reverter várias das políticas de Donald Trump. A principal delas será a ambiental, justamente o tema que coloca o governo de Jair Bolsonaro em choque direto com o futuro governo democrata.
Durante os debates presidenciais, Biden mostrava que não concorda com a atual política ambiental brasileira. Em um deles, chegou a prometer US$ 20 bilhões para proteger a Amazônia e ameaçou o Brasil com retaliações. A fala foi imediatamente respondida por Bolsonaro, que disse não aceitar "subornos".
Assistimos há pouco aí um grande candidato à chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto [Araújo, chanceler]? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão, não funciona.
Porém, segundo especialistas em relações internacionais ouvidos pelo UOL, uma política ambiental em que há negação do aquecimento global e vista grossa para queimadas e desmatamentos pode, de fato, fazer os Estados Unidos considerarem o Brasil como um vilão, o que teria um forte apelo entre o eleitorado democrata.
"Isso é uma pauta que agrada as elites norte-americanas’’, explica o professor Pedro Feliú, de relações internacionais da USP (Universidade de São Paulo). "É um resultado fácil de ele [Biden] obter, porque ele pressiona o Brasil. Se der certo, ele traz o troféu para casa e fala: ’Eu mudei o comportamento do Brasil na Amazônia, o que é fundamental para o mundo’."
Se o Brasil não se comportar, o troféu para casa vai ser um endurecimento das relações com o país desmatador. E aí o Brasil pode ser o grande troféu norte-americano.
Pedro Feliú, professor de relações internacionais da USP
Outro sinal de que o Brasil não terá vida fácil com o novo governo é o nome que Biden escolheu para lidar com os assuntos da América Latina. Juan Gonzalez é um crítico da agenda ambiental de Bolsonaro.
Em qualquer relacionamento que Biden tenha com líderes ao redor do mundo, a mudança climática estará no topo dessa agenda, e isso inclui o Brasil.
Juan Gonzalez em entrevista ao Washington Post em outubro
No mesmo mês, ele escreveu no Twitter: "Qualquer pessoa, no Brasil ou qualquer outro lugar, que pensa que pode promover um relacionamento ambicioso com os Estados Unidos enquanto ignora questões importantes, como mudança climática, democracia e direitos humanos, claramente não tem ouvido Joe Biden durante a campanha".
Anybody, in Brazil or elsewhere, who thinks they can advance an ambitious relationship with the United States while ignoring important issues like climate change, democracy, and human rights clearly hasn’t been listening to Joe Biden on the campaign trail. https://t.co/SyIGlFMdpx
— Juan S. Gonzalez (@Cartajuanero) October 22, 2020