633 visitas - Fonte: Plantão Brasil
Uma conversa reservada entre parlamentares, momentos antes do protesto de Glauber Braga, expôs o clima de chantagem e insatisfação que domina a Câmara. O debate revelou a irritação de diversos deputados com o atraso na liberação de emendas impositivas pelo Executivo. O deputado Leo Prates (PDT-BA) relatou aos colegas o azedume na reunião de líderes, onde Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), do partido de Bolsonaro, cobrou o pagamento de emendas obrigatórias, das quais apenas 58% haviam sido quitadas.
A insatisfação com a retenção das verbas, crucial no final do ano, foi usada como arma política. Hugo Motta (Republicanos-PB) aproveitou a cobrança para garantir apoio, alertando que, sem o avanço na liberação das verbas, “a Casa não anda”. Em resposta, os líderes do governo, Lindbergh Farias e José Guimarães, prometeram a quitação total das emendas até 30 de dezembro, evidenciando a pressão do Legislativo sobre o Planalto.
A crise das emendas se transformou em uma ameaça direta: alguns deputados consideraram abertamente a possibilidade de apoiar a pauta do Projeto de Lei da Dosimetria, que beneficia Jair Bolsonaro e os condenados do 8 de Janeiro, como forma de enviar um recado hostil ao governo Lula. A pauta, que estava em impasse, avançou repentinamente após essa articulação nos bastidores.
O relatório do PL da Dosimetria, de Paulinho da Força (Solidariedade-SP), reduz as punições ao impedir a soma de crimes contra o Estado Democrático de Direito. Além disso, cria redutores de pena para participantes sem papel de comando ou financiamento, enfraquecendo a responsabilização da base golpista, embora não preveja a anistia formal.
Apesar das promessas de quitação, os números do Orçamento mostram que, dos R$ 50,37 bilhões destinados às emendas, apenas R$ 26,54 bilhões (ou 52,7%) foram pagos. O atraso é generalizado: as emendas individuais, as de maior interesse dos parlamentares, foram quitadas em apenas 75,6% do empenhado, enquanto as de bancada e comissão, menos prioritárias para o Centrão, receberam pagamentos de apenas 34% e 30,2% da verba prevista, respectivamente.
O que se viu na Câmara foi um nítido movimento de chantagem do Centrão, que utiliza o poder de travar a agenda legislativa e pautar projetos pró-golpistas para forçar a liberação de dinheiro público pelo Executivo, comprovando a relação predatória que busca minar a autoridade e o Orçamento do governo Lula.
Assista ao vídeo
IRRITAÇÃO | Em uma conversa flagrada pelo GLOBO momentos após a reunião de líderes em que anunciou a votação da proposto, parlamentares do PDT relataram cobranças da oposição para que os recursos fossem liberados.
— Jornal O Globo (@JornalOGlobo) December 10, 2025
O texto foi aprovado pela Casa na madrugada de quarta-feira, e… pic.twitter.com/GtGKJk7zTX