SEM ÁGUA E SEM LUZ, JORNALISTA RELATA SEU DIA DE PERIFERIA NOS JARDINS

Portal Plantão Brasil
11/1/2015 12:46

SEM ÁGUA E SEM LUZ, JORNALISTA RELATA SEU DIA DE PERIFERIA NOS JARDINS

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Por Ricardo Kotscho



A água acabou às quatro da tarde, como tem acontecido com frequência. Às seis, acabou a luz. Ruas alagadas, carros boiando, prédios sem elevador, restaurantes fechando, semáforos piscando, árvores e postes caídos no asfalto, um caos.



Em muitas regiões mais pobres da cidade estas cenas são habituais quando chegam as chuvas de verão e, na maioria das vezes, a gente nem fica sabendo, não dá manchete. Só que, desta vez, aconteceu no coração dos Jardins, a área mais nobre da maior cidade do país.



Antes que me chamem de preconceituoso, já vou logo confessando: faz mais de dez anos moro aqui, no Jardim Paulista, que viveu nesta quinta-feira seu dia de periferia. Enfim, poderão dizer os mais otimistas, vivemos na sociedade igualitária com que muitos sonhamos. Aos poucos, por toda parte, São Paulo vai virando um imenso subúrbio abandonado, acabando com os privilégios das minorias.



O que também tem seu lado bom. Sem energia, que até a meia noite não havia voltado, toda a parafernália eletrônica saiu do ar, tornou-se inútil. Até as luzes de emergência da escadaria pifaram e nem o filtro d´água funcionava, o que me obrigou a experimentar pela primeira vez a água de torneira oferecida pelo segundo volume morto do Cantareira. Por falta de opções, esticamos o jantar à luz de velas na cozinha e conversamos bastante sobre a vida, como há muito tempo não acontecia.



Às vésperas de completar 461 anos, a altaneira cidade de São Paulo dos bandeirantes, a "suíça brasileira", a "locomotiva do Brasil", onde tudo é maior e melhor, caiu na real. Vai ficando tudo nivelado por baixo, como o nível das águas lamacentas do Cantareira.



O governador tucano não cuidou dos reservatórios e preferiu investir a grana da Sabesp na Bolsa de Nova York. O prefeito petista, mais preocupado com as bicicletas, não cuidou dos bueiros entupidos, das ruas esburacadas, da manutenção das velhas árvores, das calçadas quebradas.



Certa vez, quando estava começando a carreira no Estadão dos anos 60 do século passado, pediram-me para escrever um artigo sobre o aniversário da cidade. O título era mais ou menos na linha "amo esta cidade com todo ódio", mostrando o que ela tem de bom e de ruim. De lá para cá, não sei dizer se aumentaram os motivos para sentir mais amor ou mais ódio. O fato é que continuo vivendo aqui, ou melhor, sobrevivendo, na cidade onde nasci.



E vamos que vamos.



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