J.P.Cuenca: Num sofá imaginário, o debate sobre o papel da mídia

Portal Plantão Brasil
15/2/2014 17:29

J.P.Cuenca: Num sofá imaginário, o debate sobre o papel da mídia

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1496 visitas - Fonte: Vio Mundo

por Luiz Carlos Azenha



J.P.Cuenca, na Folha, escreveu um dos melhores artigos que li até agora sobre a morte do repórter cinematográfico Santiago Andrade, no Rio.



Fala da histeria e do sensacionalismo que podem resultar em leis desnecessárias — é, acrescento eu, gente oportunista pegando carona numa tragédia para acertar contas com adversários políticos, de olho nas eleições de 2014; gente que não se envergonha de usar a comoção da família para fazer avançar seus interesses.



O leitor Bonifa, num comentário que se tornou post, pergunta sobre o que teria levado as Organizações Globo e a revista Veja a enveredar por onde enveredaram na cobertura do caso.



A Globo falou em “atentado à liberdade de imprensa”.



A Veja foi atrás de uma lista de um ato não relacionado à morte do profissional da Band com doações feitas por políticos.



O “jornalismo declaratório”, denunciado por Caco Barcellos, venceu mais uma: hoje os desavisados estão certos de que as manifestações são frequentadas por quem recebe 150 reais, quando ninguém apresentou nenhuma prova de que de fato isso aconteceu.



Se Caio Souza recebeu 150 reais, deve saber de quem recebeu. Ou não? Pode ter depositado o dinheiro. Feito algum pagamento. Entregue a alguém. Para a polícia que conseguiu encontrá-lo na Bahia, facílimo de elucidar. Mas as acusações são todas genéricas, pelo menos por enquanto.



Prova? E precisa?



A Globo usou “jornalismo declaratório” contra o deputado Marcelo Freixo, do Psol, com a seguinte manchete bizarra, no G1:







Uma amiga anotou que o Jornal Nacional dedicou 15 minutos e 15 segundos à cobertura, no dia da prisão do acusado na Bahia — o que se justifica, já que a repórter da emissora acompanhou a polícia.



Essa simbiose entre o jornalismo e as autoridades não é, nem de longe, novidade.



Basta relembrar a presença do repórter Cesar Tralli com equipes da Polícia Federal em mais de uma oportunidade.



Eu mesmo, quando era repórter da Globo no Rio de Janeiro, fui escalado para viajar num jatinho do governo do Estado do Rio para cobrir a prisão do traficante Fernandinho Beira-Mar, na Colômbia, ao lado do então secretário de Segurança Josias Quintal.



Quando a cobertura interessa às autoridades, a Globo tem portas abertas.



Neste caso, é óbvio que a cobertura interessava ao governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral: primeiro, porque muitas das manifestações são contra ele; segundo, porque é eleitoralmente positivo ser ou apoiar o “candidato da ordem”; terceiro, porque ficou demonstrada a eficiência da polícia carioca, especialmente na resposta a um caso que causou comoção nacional.



Já a Globo, pela primeira vez na sua história sofre o questionamento em massa nas redes sociais. Esse questionamento muitas vezes transborda para as ruas.



Estamos no ano em que o golpe de 1964 completa 50 anos. Falta muito a dizer sobre a simbiose entre as Organizações Globo e a ditadura militar.



Questionamentos sobre o papel da Globo na ditadura remetem diretamente ao presente e ao fato inescapável de que a emissora — como, aliás, todas as emissoras e empresas jornalísticas — tem lado, faz escolhas e não paira sobre a sociedade como ente “imparcial”.



As emissoras de rádio e TV são concessões públicas e as concessões públicas devem responder àqueles que são donos do espectro eletromagnético, ou seja, a todos os brasileiros.



Essa é uma “descoberta” que um número crescente de brasileiros vem fazendo, através das redes sociais.



A Globo, especificamente, é a campeã no recebimento de dinheiro público, via governo federal, outra descoberta recente para muitos:







Insisto: quando Rodrigo Vianna deixou a emissora, em 2006, as redes sociais ainda eram coisa de poucos no Brasil.



As críticas à Globo estavam concentradas entre jornalistas e acadêmicos.



Hoje, ganharam massa crítica.



No episódio do Rio, a emissora encontrou a oportunidade de se colocar “do lado certo” da opinião pública.



Falar em “atentado à liberdade de imprensa” confere a ela o status de defensora de algo com o qual 99,99% dos brasileiros concordam!



Porém, é bom lembrar que a Globo defende tal liberdade de forma seletiva.



Que eu saiba, a emissora não fez registro da prisão ou da busca e apreensão contra jornalistas em Minas Gerais, promovida por agentes estatais ligados a governo “amigo”, de Antonio Anastasia-Aécio Neves.



O ponto-chave da coluna de J.P.Cuenca na Folha é justamente este:







Nem a Globo, nem qualquer empresa da mídia corporativa, quer sentar no sofá do J.P. Cuenca para discutir o papel que exerce na sociedade, uma exigência de um número cada vez maior de brasileiros.



Queremos discutir a regulamentação dos capítulos da Constituição de 1988 que tratam da comunicação.



Queremos discutir a legislação antiquada que rege o setor — um emaranhado que favorece duas dúzias de famílias que ditam a agenda nacional.



Queremos discutir o Ofcom britânico, o escritório independente que regulamenta o setor das comunicações no Reino Unido e ao qual os ouvintes e telespectadores podem recorrer contra os crimes midiáticos (sim, disseminar notícia sobre uma epidemia inexistente, por exemplo, configura crime).



Porém, qualquer tentativa de debate é, em si, tratada como ameaça à liberdade de imprensa e/ou de expressão.



A mídia corporativa em geral e a Globo em particular não se envergonham de usar qualquer subterfúgio para fugir do sofá retórico de J.P.Cuenca.





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