O “Minha Casa”, sim senhor, nasceu com Vargas

Portal Plantão Brasil
2/10/2014 08:52

O “Minha Casa”, sim senhor, nasceu com Vargas

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462 visitas - Fonte: Tijolaço

Vocês me desculpem se hoje estou “varguista”, mas o Rodrigo Vianna, o mais gentil Escrevinhador, envia-me um artigo que publicou, escrito pela arquiteta e urbanista Nilce Aravecchia Botas , professora da USP, e pesquisadoras do grupo Pioneiros da Habitação Social no Brasil que me deu um frio na espinha, duas vezes.

A primeira, por ler que “a política (habitacional) inaugurada na Era Vargas invertia o papel social dos pobres nas cidades brasileiras. Antes combatidos como caso de polícia eles foram incorporados como atores estratégicos do processo de industrialização. Assim, suas moradias deixavam de ser simples alvo de ações higienistas (a politica do bota-abaixo) convertendo-se em problema social”.

Vejam o que talvez muitos não saibam e eu sei – não por “sabido”, mas pelo que contarei a seguir – sobre como “o pacto forjado entre setores intelectuais, um segmento médio urbano que se consolidava, e as classes trabalhadoras que começavam a ganhar status de massa, deu origem às transformações que pretendiam colocar o país de vez na ordem capitalista, e realizar aqui o “bem-estar social” à brasileira”, segundo conta a arquiteta, para afirmar que “entender essa dinâmica a partir da produção dos conjuntos habitacionais e do significado de sua inserção nas principais cidades do país, nos ajudou a superar as interpretações mais vulgares baseadas no conceito de “populismo”, que costumam caracterizar muitas das análises do período”.

E a segunda emoção, porque, curioso, fui fuçar o site onde se apresenta a coleção da qual trata Nilce - “Pioneiros da Habitação Social no Brasil” – e lá encontrei, descrito tal como eu vi, um dos conjuntos habitacionais construídos por Vargas, o IAPI de Realengo, no Rio, onde moraram meus avós e eu passei muitos e muitos dias, nos anos 60 e 70, numa casa geminada, de blocos de concreto, para onde os velhos foram depois de morarem num cortiço, daqueles que se punha abaixo.

Um pedacinho, para que entendam como aquilo foi um mundo novo para gente que não tinha nada, nada:

“Projetado pelo arquiteto Carlos Frederico Ferreira, chefe do Setor de Engenharia do IAPI, o conjunto localiza-se junto a? estac?a?o de trem de Realengo, subu?rbio do Rio de Janeiro. Vasto campo de experimentac?a?o projetual, sua concepc?a?o estabeleceu uma linhagem de tipos — unidades unifamiliares e blocos de apartamentos —, que foram utilizados, conforme as necessidades, em distintas localidades. A preocupac?a?o com a inovac?a?o tecnolo?gica, seriac?a?o e barateamento do produto final manifesta-se de forma ine?dita nesse empreendimento magno do IAPI, um projeto racional que visava a? qualidade, economia e reprodutividade.

O empreendimento colocou em pra?tica a concepc?a?o definida pelo governo Vargas para a construc?a?o de nu?cleos habitacionais para os trabalhadores, com infraestrutura completa (redes de a?gua, luz e esgoto, galerias de a?guas pluviais, pavimentac?a?o e estac?a?o de tratamento de esgoto) e va?rios servic?os de cara?ter coletivo, efetivamente implantados, como a?reas comerciais, escola prima?ria para 1.500 alunos, creche para cem crianc?as, ambulato?rio me?dico, gabinete denta?rio, quadras para a pra?tica de esportes, templo cato?lico e horto florestal, concretizando a proposta de uma unidade de vizinhanc?a onde o trabalhador pudesse encontrar tudo aquilo de que necessitasse ale?m do trabalho.”

Nabil Bonduki, coordenador do projeto, reproduz na sua página um depoimento, colhido há 20 anos, do projetista da obra: “”O presidente me chamou e eu fui lá para ver um projeto, que tinha que fazer, de simplesmente 2.000 habitações. Isto era um negócio, muito chocante, porque na época em que nós vivíamos [1938], a intenção de financiar habitação era muito precária, os governos eram tímidos, o máximo que o governo construía era 200 casas.”

Ah, que maravilha o tempo em que este país ousava!

A coleção será lançada amanhã na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Rua Maranhão, 88), às 17 horas, onde eu gostaria, se pudesse, de estar. E perdão, de novo, se isto está meio pessoal, mas é que que não ama e honra o lugar e a gente de onde veio não merece ir a lugar nenhum.



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