Listas de boicote a empresas e profissionais petistas preocupa e gera revolta no RS

Portal Plantão Brasil
7/11/2022 09:36

Listas de boicote a empresas e profissionais petistas preocupa e gera revolta no RS

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16459 visitas - Fonte: G1

O segundo turno das eleições terminou no dia 30 de outubro, com a vitória de Lula (PT) na disputa pela Presidência da República. Contudo, para uma série de empresas e profissionais liberais do Rio Grande do Sul, persistem as ameaças do tenso clima instalado no período eleitoral. Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) divulgam nas redes sociais listas incentivando boicote a quem seria petista ou, até mesmo, não seria abertamente bolsonarista.


O g1 reuniu quatro relatos de pessoas de diferentes regiões do estado: Sananduva, Gravataí, Teutônia e Porto Alegre. Todas elas foram incluídas em listas ou expostas em redes sociais por conta de seus posicionamentos políticos (ou da falta de posicionamento explícito) e relatam como isso afetou o dia a dia de seus trabalhos. Alguns casos já foram informados à Polícia Civil. Veja abaixo.

"Todo mundo tem medo", diz um lojista ouvido pela reportagem.
Para um especialista em direito administrativo e eleitoral consultado pelo g1, os casos podem representar dano moral ou concorrência desleal e devem ser denunciados. Ele cita os episódios em que empresas foram denunciadas por coação eleitoral de funcionários e fala em "assédio invertido".

Perda de clientes

As mensagens circulam em grupos do WhatsApp e já foram registradas em diversas regiões do estado. Em Sananduva, no Noroeste do RS, um casal de comerciantes procurou a polícia para relatar o constrangimento sofrido nas redes. O homem, que prefere não ser identificado, teme ameaças.

"A cidade é pequena, e eles criaram esse grupo começando a retaliar esse pessoal, colocando que eram todos petistas, dizendo que não era para colocar dinheiro ali", diz.
Nos grupos, apoiadores de Bolsonaro defendem o boicote de estabelecimentos e profissionais. O g1 teve acesso a prints de uma das conversas. Uma pessoa elogia a iniciativa de divulgar listas: "esse tipo de comerciante não valoriza o povo", diz. Outro sugere que os empresários devem ser "sustentados pelo PT", em vez da circulação de clientes.

Enquanto uma pessoa pondera, dizendo que a reprodução da lista pode "dar treta", outra responde que só cita empresas das quais teria provas de que seriam administradas por apoiadores de Lula.


O delegado Hugo Rigo Júnior afirma que a Polícia Civil recebeu ao menos três ocorrências do tipo. A linha de investigação ainda é incerta, uma vez que não haveria a concretização do boicote.

"Inicialmente, do que chegou até agora, não chegou a ter boicote. A gente vai aguardar, vamos ver se ter alguma coisa a mais para ver se configura algum crime", comenta.

Os casos variam entre relatos feitos pessoalmente na delegacia e boletins registrados online, no site da Polícia Civil. Como as ocorrências virtuais levam alguns dias para ser distribuídas ao município, o número pode mudar com o passar do tempo.

A indefinição preocupa o casal de lojistas citado na lista de Sananduva, que viu o movimento diminuir após a eleição.

"A loja está parada. Tem gente que tem restaurante e parou. Mesmo que a pessoa queira ir na tua loja, tem gente que fica com receio de estar sendo vigiada", lamenta o comerciante.


Com cerca de 30 mil habitantes, Sananduva deu 7.685 votos (70,13%) a Bolsonaro e 3.273 votos (29,87%) a Lula.

Adesivo de ’petista’

Em Gravataí, na Região Metropolitana, um profissional que atua no ramo de imóveis também foi incluído em uma lista. Segundo ele, outros empresários sugerem que aqueles que não teriam apoiado Bolsonaro coloquem um adesivo em seus estabelecimentos dizendo ser petistas, como forma de constrangimento.

"Num primeiro momento, a reação foi de surpresa. Achei infantil e bastante pequeno", diz o homem, que também prefere manter anonimato.
De acordo com o homem, outras pessoas citadas na lista ficaram preocupadas com "o ganha pão" em razão das publicações. Ele, no entanto, diz não ter medo de perder clientes, mas lamenta que esse tipo de ação exista.

"Fazer o mal para alguém não é protesto. Eu posso fazer um protesto contra um governo ou candidato, desde que de uma forma tranquila. Mas aí não é legal", fala.

Ele cogitaria ingressar na Justiça caso tivesse provas de quem foi responsável pela publicação da lista, mas acredita ser difícil chegar à origem das mensagens. O que entristece o profissional é a atitude de outros empresários em divulgar o índice.

"O que me chateou foi que alguns empresários incentivaram isso sem perceber que, em algum momento, eles podem ser boicotados", afirma.


Gravataí, com 285 mil moradores, é um dos maiores colégios eleitorais do estado. No município, Bolsonaro venceu Lula com 87.219 votos (60,17% ) frente a 57.730 (39,83%) do petista.

Discussão nas redes

Eu Teutônia, no Vale do Taquari, a 108 km de Porto Alegre, as pressões contra uma lojista surgiram nas redes sociais. Uma influenciadora digital que trabalha com a divulgação de seu estabelecimento na internet sofreu pressão de conhecidas da família.

"A loja fez uma live de vendas, e a gente mandou numa lista de transmissão para todas as clientes pra nos darem uma força. Eu recebi mensagens dessas duas pessoas, que disseram que iam aguardar as eleições passarem porque, se o Lula ganhasse, elas não iriam mais comprar", conta a mulher, que também prefere manter a identidade preservada.

Incomodada com os comentários, a empresária conversou com uma das pessoas que fez o comentário. A comerciante explicou que a live não tinha nenhum teor político e que ela não havia se manifestado publicamente sobre sua opção de voto. Ainda assim, parou na lista de boicote.

"É o medo, né? A gente fica um pouco com o pé atrás, se escondendo, porque não se sabe até que ponto a raiva de quem nos colocou na lista anda. Eu já avisei minhas funcionárias pra chamar o segurança [em caso de ameaça presencial]", fala.

A influenciadora ainda cita a diferença entre pequenos empresários, caso dela, e grandes estabelecimentos. Depois da lista, ela diz ter recebido apenas uma cliente na loja.

A cidade tem 34 mil habitantes. Por lá, Jair Bolsonaro também derrotou Lula. O presidente e candidato à reeleição recebeu 12.726 votos (64,10%), enquanto o candidato do PT obteve 7.126 votos (35,90%).

’Repercussão positiva’

Se em cidades onde Bolsonaro foi o mais votado o clima é de medo, em Porto Alegre, onde Lula fez 437.798 votos (53,50%) contra 380.499 (46,50%) de Bolsonaro, o cenário é outro. Pessoas citadas em listas de boicote dizem ter percebido um aumento na procura de clientes, solidários à pressão bolsonarista.

Esse é o caso da nutricionista Carla Costa, a única entrevistada que não se importou em ser identificada pela reportagem. Ela, que se diz abertamente de esquerda, teve o nome exposto por uma usuária do Twitter após publicar uma foto comemorando o resultado das eleições no Instagram.

"No dia da eleição, postei uma foto comemorando. Nunca tinha sido ofendida nem nada. Eu postei ’agora acabou o medo’ e uma pessoa me questionou ’medo de quê?’. Uma seguidora ’printou’ e eu levei um susto, não soube o que fazer", relata.

A mensagem pedia cuidado para quem fosse buscar uma nutricionista em Porto Alegre, com insinuações falsas a respeito da conduta da profissional.

Após a repercussão, Carla recebeu contato de pessoas interessadas em ser atendidas por ela. Ainda assim, o susto com a reprodução de sua imagem foi grande.

"Num primeiro momento, veio uma repercussão positiva. Mas foi um susto, foi horrível ver aquilo ali, porque eu não ofendi ninguém", fala.

Carla decidiu não relatar o caso às autoridades. Segundo a Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI) de Porto Alegre, nenhum caso do tipo havia sido registrado na última semana.


Publicação no Twitter defende boicote contra nutricionista de Porto Alegre — Foto: Reprodução/Twitter




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