Familiares do documentarista Miguel Viveiros de Castro, que integrava a Flotilha da Liberdade em missão humanitária rumo a Gaza, denunciaram seu desaparecimento após o sequestro dos barcos pelas forças de Israel. Miguel havia gravado um vídeo exclusivo horas antes, alertando que poderia ser o último registro em razão da violência que a flotilha sofria no trajeto.
De acordo com a família, havia um protocolo rígido de comunicação: mensagens a cada dez minutos e vídeos automáticos preparados para serem disparados em caso de prisão. No entanto, desde o ataque, não houve qualquer sinal de Miguel, o que aumentou a angústia de parentes e amigos. Dos 15 brasileiros que estavam na flotilha, 13 foram confirmados como sequestrados, mas o nome de Miguel aparece apenas como “possivelmente interceptado”.
O caso foi levado ao Itamaraty, que já se mobiliza para obter informações concretas. Parlamentares se reuniram nesta quinta-feira (2) com o chanceler Mauro Vieira para tratar da prisão arbitrária de brasileiros, incluindo a deputada Luizianne Lins (PT-CE), e da situação ainda incerta de Miguel. O encontro contou com nomes como Lindbergh Farias, Maria do Rosário e Erika Kokay.
Documentarista Miguel Viveiros de Castro, a bordo de um dos mais de 40 barcos da Flotilha, enviou relato dramático antes de anoitecer. Se sionistas não atacarem, ajuda humanitária chegará aos palestinos na Faixa de Gaza.https://t.co/4cTNf49T5L
Além de cobrar esclarecimentos imediatos sobre o paradeiro do documentarista, a frente parlamentar em defesa do povo palestino entregou um documento ao governo Lula pedindo que o Brasil use instrumentos jurídicos internacionais para responsabilizar Israel. O texto também reivindica que o país decrete sanções diplomáticas e econômicas contra o governo de Benjamin Netanyahu.
Entre as medidas sugeridas estão a convocação da resolução da ONU “Uniting for Peace”, a proibição de exportações militares, restrições a embarcações ligadas ao armamento de Israel e a revisão de contratos públicos que possam financiar a ocupação. A iniciativa faz parte de um esforço global de países do Sul que não aceitam a impunidade diante do genocídio em Gaza.
A carta da família de Miguel encerra com um apelo emocionado: não aceitar silêncio, eufemismos nem omissão. “Miguel não é número, não é abstração. É uma vida, é um brasileiro desaparecido em meio a um crime internacional. Queremos respostas, não hipóteses”, afirmam.
Leia a carta divulgada pela família de Miguel Viveiros de Castro
Denúncia pelo desaparecimento de Miguel Viveiros de Castro
Miguel Viveiros de Castro, meu enteado, fazia parte da Flotilla humanitária rumo a Gaza, que levava comida e remédios a uma população sitiada, submetida à fome e à destruição. A Flotilla era uma missão de solidariedade e vida — e por isso mesmo foi atacada.
Com Miguel, tínhamos um protocolo rigoroso: contato a cada 10 minutos. Se fossem presos, os tripulantes deveriam jogar os celulares ao mar e imediatamente um vídeo seria disparado. Esses vídeos já estavam prontos: cada um se identificava e informava que estava sendo sequestrado por Israel. Essa era a garantia mínima de visibilidade e proteção.
No caso de Miguel, não temos nada disso. Nenhum vídeo. Nenhum sinal. Apenas o silêncio.
Nas listas divulgadas, ele aparece como “possivelmente interceptado”. Mas essa palavra não se sustenta. Dos 15 brasileiros que estavam na Flotilla, 13 aparecem como sequestrados. Dois não aparecem — e Miguel é um deles. Não existe “possivelmente”: ou foi interceptado ou não foi. E tudo indica que sim, porque Miguel mantinha o contato com disciplina absoluta até o momento em que desapareceu.
Essa situação é devastadora. Desde o sumiço, estamos em contato direto com o Itamaraty e outras autoridades. Queremos respostas, não hipóteses. Queremos informações concretas e oficiais sobre o que aconteceu com Miguel.
A cada hora que passa sem notícias, cresce o desespero da família, dos amigos e de todos que acompanham essa tragédia. Miguel não é número, não é abstração. É uma vida, é uma pessoa, é um brasileiro desaparecido em meio a uma operação que ataca não apenas Gaza, mas também aqueles que ousam romper o cerco e levar ajuda humanitária.
Exigimos:
que o desaparecimento de Miguel seja reconhecido formalmente;
que as autoridades brasileiras e internacionais atuem de imediato para esclarecer seu paradeiro;
que a verdade seja estabelecida, sem subterfúgios linguísticos como “possivelmente interceptado”.
A incerteza é devastadora. É uma forma de sofrimento que destrói por dentro, que impede a família de respirar, que torna cada minuto uma tortura.
O governo brasileiro precisa estar à altura da gravidade deste crime. Não basta lamentar nem negociar nos bastidores. É preciso denunciar, cobrar em instâncias internacionais, exigir clareza e responsabilizar o Estado de Israel pelo ataque à Flotilla e pela prisão de cidadãos brasileiros.
Não aceitaremos a palavra “possivelmente”. Não aceitaremos a neutralidade cúmplice.
Exigimos ação, denúncia e verdade.
Miguel está desaparecido. E o Brasil, junto à comunidade internacional, tem o dever de certificar o que aconteceu com ele e lutar para trazê-los de volta.
Com informações da Fórum
Plantão Brasil foi criado e idealizado por THIAGO DOS REIS. Apoie-nos (e contacte-nos) via PIX: apoie@plantaobrasil.net
Se você quer ajudar na luta contra Bolsonaro e a direita fascista, inscreva-se no canal do Plantão Brasil no YouTube.
O Plantão Brasil é um site independente. Se você quer ajudar na luta contra o golpismo e por um Brasil melhor, compartilhe com seus amigos e em grupos de Facebook e WhatsApp. Quanto mais gente tiver acesso às informações, menos poder terá a manipulação da mídia golpista.