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A menção feita por Gilmar Mendes a um "escândalo" que pode vir à tona na 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro —responsável pelos processos da Lava Jato no estado— é mais um round do embate público entre o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e a operação.
Nos últimos anos, multiplicaram-se os ataques mútuos —sejam em declarações públicas ou em autos de processos. Desta vez, Gilmar Mendes trouxe à tona um caso sob investigação de um advogado suspeito de arrebatar clientes de peso de escritórios advocatícios do Rio oferecendo facilidades junto à força-tarefa e ao juiz Marcelo Bretas.
Após as declarações de Gilmar, integrantes da Lava Jato se disseram perplexos por passarem de vítimas a investigados, e o juiz Bretas refutou irregularidades (leia mais abaixo).
O que disse Gilmar Mendes
Gilmar mencionou a Lava Jato do Rio durante julgamento nesta semana sobre a suspeição do ex-juiz Sergio Moro. "A tal 7ª Vara do Rio de Janeiro, não sei por que o escândalo ainda não veio à tona, mas o que se fala em torno dessa Vara também é de corar frade de pedra", disse o ministro, sem citar Bretas nominalmente.
Corrupção na Justiça Estadual vai para a Justiça Federal, para a 7ª Vara, que está extremamente mal falada. Não sei se ouviram sobre um personagem chamado Nythalmar, um advogado que liderava as delações até determinado momento e depois se tornou uma figura espúria e veio reclamar no STJ? Por isso tenho dito para eles, para os colegas do Conselho da Justiça Federal e do STJ: façam alguma coisa, antes que a Justiça se comprometa de forma indelével
Gilmar Mendes em sessão da 2ª Turma do STF
O pivô do caso
O pivô do imbróglio, que hoje tramita no STJ (Superior Tribunal de Justiça), é o advogado Nythalmar Dias Ferreira Filho, que cuida da defesa de pesos pesados investigados pela Lava Jato, como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o empresário Arthur Soares —conhecido como Rei Arthur— e o ex-secretário de Segurança do Rio José Mariano Beltrame.
Nythalmar foi acusado por outros advogados, inicialmente em um procedimento interno da OAB-RJ, de cooptar clientes de colegas com a alegação de que ele "vendia facilidades" junto a Bretas e da força-tarefa da Lava Jato.
O MPF-RJ chegou a apreender um bilhete na casa do almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, em que Nythalmar era descrito como "advogado ’milagreiro’ do juiz Marcelo Bretas".
Nythalmar apresentou então uma reclamação ao STJ e conseguiu em dezembro decisão favorável do ministro Humberto Martins, presidente do Tribunal, suspendendo as buscas autorizadas pela 3ª Vara Federal do Rio.
O advogado alegou que, em razão da citação de procuradores na investigação, o caso deveria ser analisado pelo tribunal superior. O caso aguarda manifestação da relatora, a ministra Laurita Vaz —ela pode manter a liminar ou rejeitá-la, devolvendo o caso à 3ª Vara Federal.
Procurado pelo UOL, Nythalmar preferiu não se manifestar.
O que dizem Bretas e a Lava Jato
Para os procuradores da força-tarefa da Lava Jato do Rio —que será dissolvida ao final deste mês— as declarações de Gilmar não têm embasamento em fatos. Eles defendem a retomada da investigação e pontuam que, de vítimas, passaram a ser investigados por uma decisão tomada durante o plantão judiciário do STJ.
Já o juiz Marcelo Bretas usou as redes sociais para rebater Gilmar Mendes.
Como Juiz Federal há mais de 23 anos, 6 dos quais como titular da 7ª Vara Federal no Rio de Janeiro, e com a consciência tranquila da lisura do trabalho ali desempenhado, NEGO VEEMENTEMENTE qualquer suposta irregularidade, como foi referido na nota abaixo. https://t.co/vdkcphXfJP
— Marcelo Bretas (@mcbretas) March 9, 2021