Dilma, porque estou do seu lado

Portal Plantão Brasil
12/10/2014 22:43

Dilma, porque estou do seu lado

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No lobby de um hotel, no interior de São Paulo, a TV está ligada no Jornal Nacional, “tudo a ver com você”, e William e Patrícia fazem saber ao público lá presente os primeiros resultados das pesquisas para o 2° turno das eleições presidenciais e os vazamentos das delações premiadas sobre escândalos na Petrobras. Nesta ordem e com forte destaque para o segundo evento.



Prato e copo feitos para os senhores, que ocupavam uma mesa próxima ao bar do hotel, festejarem com gestos de adeus diante da primeira imagem em que surgiu o rosto da presidente Dilma Vana Rousseff, nome por extenso, como outrora registrado pelos órgãos da repressão.



Sorri, baixei a cabeça, dei o último gole na Heineken, e pus-me a pensar por que eu não havia me juntado àquela cena de “adeus, cinco letras que choram num soluço de dor”, como maravilhosamente cantaram Chico Alves e Nelson Gonçalves, sobre música e letra de Silvino Neto, de 1940.



Tinha tudo para acompanhá-los no regozijo. Até pela marca de cerveja que eu bebia, pelo hotel em que me hospedava e o restaurante em que, mais tarde, iria jantar com amigos.



Poderia imaginar quanto uma política econômica de cunho neoliberal poderia ser benéfica às minhas atividades profissionais e empresariais.



Poderia.



Poderia pensar o mesmo em relação aos meus filhos, bem empregados em multinacionais.



Poderia ver as empresas em que participo recebendo mais encomendas. Os pessimistas empresários brasileiros que hoje temem ver vingar aqui um projeto político bolivariano, aliviados, voltariam a libertar seu “espírito animal”.



Poderia convencer meus investidores arriscando mais recursos na empresa. Afinal, o Brasil voltaria a crescer, pois, reduzindo os empregos e salários, aumentaria a produtividade dos trabalhadores.



Poderia continuar pagando o caríssimo seguro-saúde, que garante ao casal ser atendido no Hospital Sírio-Libanês ou Albert Einstein, pelos melhores médicos de São Paulo. Não teríamos que nos sujeitar ao SUS ou a médicos cubanos, como tantos comentaristas aqui me sugerem.



Poderia, com a animação da festa generalizada, até mesmo passar a ser remunerado pelo que escrevo em Terra Magazine, pois o faço há quase seis anos pelo prazer de escrever, a liberdade concedida e a admiração ao jornalista Bob Fernandes.



Poderia, enfim, poderia …



O que me fez, então, não me juntar àqueles senhores no efusivo gesto de adeus, se tanto poderia melhorar a minha vida pessoal ou, na pior das hipóteses, não piorá-la?



Cinco letras que me trariam soluços de dor.



Por renegar dez anos de ensinamentos beneditinos sobre ser solidário com os menos favorecidos; a militância estudantil contra a ditadura; as intensas leituras na frequência aos barracões de Ciências Sociais, na USP, e na FGV; 30 anos de votos na esperança distributiva; vê-la chegar, ainda que não completa em 12 anos, mas com milhões saindo da miséria e felizes, mesmo sabendo que vivem muito pior do que eu.



Então, simplesmente, não poderia.



Por Rui Daher



Administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola, produtor rural. Trabalhou por mais de 30 anos em empresas do agronegócio.

rui_daher@terra.com.br



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