793 visitas - Fonte: Folha
A operação da Polícia Federal na manhã de quinta-feira (19) pôs em xeque o principal articulador do governo Jair Bolsonaro no Senado, irritou aliados e deixou o Palácio do Planalto preocupado com o andamento da agenda que conduz no Congresso.
O alvo da PF, que acumula atritos com Bolsonaro nos últimos meses, foi o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo na Casa e que deixou seu cargo à disposição do presidente.
As buscas e apreensões em endereços ligados a Bezerra e ao deputado Fernando Filho (DEM-PE), filho dele, em Brasília e Pernambuco, foram autorizadas pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal).
A decisão é de 9 de setembro e atende a um pedido da PF. A então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, se manifestou contrária à ação contra o senador.
Sergio Moro, titular do Ministério da Justiça, pasta à qual está subordinada a PF, foi ao Palácio da Alvorada à tarde conversar com Bolsonaro. A Polícia Federal vive uma crise desde que o presidente ameaçou demitir o diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo.
A situação criada nesta quinta gera uma nova crise num momento delicado para o governo no Senado.
Além da reforma da Previdência, está nas mãos dos senadores a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, como embaixador do Brasil em Washington.
O governo também pode ficar sem um articulador importante para evitar a derrubada de vetos presidenciais à lei de abuso de autoridade.
A principal reação política ao longo do dia foi do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que criticou a operação e disse que vai questionar oficialmente o STF.
“Há um entendimento no Supremo Tribunal Federal que a operação realizada precisa ter conexão com o mandato. A determinação de um ministro do STF de entrar no gabinete da liderança do governo no Senado... A liderança é um espaço do governo federal. Só que em 2012 e 2014, período a que a operação se refere, Fernando Bezerra não era senador, muito menos líder do governo”, disse Alcolumbre.
As declarações foram dadas no evento “E agora, Brasil?”, organizado pelos jornais O Globo e Valor Econômico.
O presidente do Senado disse que vai defender a Casa como instituição e citou seu esforço para garantir que não haja uma crise institucional entre Legislativo e Judiciário.
Desde o início do ano, Davi Alcolumbre tem segurado reiterados requerimentos para criação de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar integrantes do STF, a CPI da Lava Toga.
À noite, Alcolumbre divulgou uma nota em que manifesta perplexidade com a operação, chamando a decisão de Barroso de “grave medida” e “drástica interferência”.
Eduardo Braga (AM), líder do MDB no Senado, também divulgou nota em nome da maior bancada da Casa.
“A independência e autonomia entre os Poderes da República são essenciais para o equilíbrio democrático. Esse equilíbrio não pode ser fragilizado por uma ação extemporânea”, disse Braga.
Nos últimos meses, o ministro Luís Roberto Barroso tem saído em defesa do legado da Lava Jato após recentes críticas à operação.
Em nota, afirmou que a decisão de autorizar a operação "foi puramente técnica e republicana, baseada em relevante quantidade de indícios da prática de delitos".
Ele ressaltou que a investigação de fatos criminosos pela PF e a supervisão de inquéritos pelo Supremo "não constituem quebra ao princípio da separação de Poderes, mas puro cumprimento da Constituição".
A PF sustenta que o líder do governo no Senado recebeu R$ 5,5 milhões em propinas de empreiteiras encarregadas das obras de transposição do rio São Francisco e de outros contratos do Executivo federal.
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