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O influenciador Jones Manoel, figura conhecida na esquerda online por suas críticas frequentes — e muitas vezes injustas — ao governo Lula, está exibindo uma viagem patrocinada ao Vietnã, um dos destinos mais caros do mundo para brasileiros. As passagens podem ultrapassar R$ 11 mil, mas o influenciador decidiu transformar o passeio num grande “merchã”, posando como consumidor privilegiado em um país marcado por condições gravíssimas de exploração trabalhista.
Enquanto grava vídeos exaltando o comércio local e antecipando críticas com ironia — “a direita vai dizer ‘comunista com sapato de R$ 10 mil’” — Jones finge não ver o óbvio: o Vietnã é hoje um dos principais polos de "sweatshops" do planeta, onde milhões de trabalhadoras enfrentam jornadas exaustivas, salários miseráveis e violência cotidiana para sustentar o fast fashion global.
O país é o terceiro maior exportador de roupas do mundo, com cerca de 6 mil fábricas e 3 milhões de trabalhadores. Muitas mulheres relatam agressões e assédio dentro das linhas de produção. Crianças também são encontradas em oficinas clandestinas. Nada disso aparece nos vídeos do influenciador, que prefere celebrar o consumo barato — graças à pirataria e aos salários de miséria — enquanto anuncia sapatos que custariam R$ 11 mil no Brasil, mas que ele compra por “250 conto”.
Relatórios internacionais mostram a realidade que Jones não cita: trabalhadores recebem salário médio de apenas US$ 248 por mês, longe do mínimo necessário para viver com dignidade. Para complementar a renda, chegam a fazer mais de 50 horas extras mensais — frequentemente não pagas. As condições incluem restrições ao banheiro, punições por desempenho e turnos de até 13 horas.
Além das violações trabalhistas, o Vietnã enfrenta crises ambientais causadas pelo setor têxtil. Há décadas, fábricas despejam resíduos tóxicos em rios e mananciais, contaminando comunidades inteiras. Em Hai Duong, moradores chegaram a bloquear a entrada de uma empresa após detectarem poluição de cursos d’água por efluentes químicos. Mesmo assim, o influenciador insiste em apresentar o cenário como paraíso do consumo acessível.
Empresas estrangeiras e nacionais prometem adotar normas mais sustentáveis, mas especialistas afirmam que as mudanças ainda são tímidas. O modelo econômico segue ancorado em mão de obra barata e impacto ambiental severo. Nada disso, porém, entra no conteúdo patrocinado de Jones Manoel, que parece mais preocupado com compras baratas do que em denunciar a exploração — comportamento que contrasta com suas críticas frequentes (e muitas vezes desinformadas) ao governo Lula.
Assista ao vídeo:
Consumir é bom demais. Com a palavra, @jonesmanoel_PE. pic.twitter.com/KNCa81BPL6
— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) November 14, 2025