Com campanha despolitizada, Sartori lidera do Rio Grande do Sul

Portal Plantão Brasil
24/10/2014 10:00

Com campanha despolitizada, Sartori lidera do Rio Grande do Sul

'Nosso partido é o Rio Grande', diz slogan de candidato do PMDB que superou Ana Amélia Lemos (PP) e Tarso Genro (PT) no 1º turno

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891 visitas - Fonte: Rede Brasil Atual

Pela segunda vez em pouco mais de uma década, um candidato do PMDB dá uma arrancada eleitoral para virar de cabeça para baixo as eleições no Rio Grande do Sul. Pouco cotado fora de sua área de influência na Serra Gaúcha, José Ivo Sartori cresceu no final do primeiro turno, chegando à frente do atual governador Tarso Genro (PT) e liderando com folga as projeções de voto para o segundo turno, em 26 de outubro.



Acusado pelos adversários de fazer uma campanha despolitizada, Sartori repete o fenômeno das eleições de 2002, quando Germano Rigotto aproveitou o vácuo criado pelo embate entre Antônio Britto (então no PPS) e o próprio Tarso para, contra todos os prognósticos, eleger-se governador.



Sartori exerceu dois mandatos como prefeito de Caxias do Sul e surgiu como uma espécie de terceira força em disputa acirrada entre Tarso e Ana Amélia Lemos (PP). Apostando em um discurso conciliador, ele construiu para si uma imagem de homem simples e trabalhador, acima das brigas políticas – seu slogan de campanha, "Nosso partido é o Rio Grande", alcançou grande impacto junto ao eleitorado gaúcho.



Em outra iniciativa recente, o peemedebista pede que eleitores enviem imagens de si mesmos com os braços abertos, simulando "um abraço do tamanho do Rio Grande."



Buscando neutralizar o adversário, a campanha de Tarso Genro tem tentado realçar a superficialidade política do discurso de Sartori. A coligação que apoia o governador tem criticado o oponente por desmarcar alguns debates (entre eles um que seria veiculado na emissora pública TVE), por apresentar-se como "novidade" quando seu partido já governou repetidas vezes o estado, e por adotar um discurso vago, que investe no caráter emocional e pouco traz de concreto sobre propostas e políticas de governo.



Mudar a atual tendência, porém, é difícil. Em pesquisa contratada pelo Grupo RBS junto ao Ibope e divulgada no último dia 17, José Ivo Sartori surge com 60% dos votos válidos, contra 40% do atual governador gaúcho. A diferença nos índices de rejeição também é um obstáculo: segundo o instituto, 41% dos consultados não votariam em Tarso em hipótese alguma, enquanto apenas 20% pensam o mesmo de Sartori.



"Sabíamos que o Sartori é um gestor já testado, que teríamos tempo de TV. Confiávamos na candidatura desde o início, ainda que muita gente duvidasse dela", frisa Sebastião Melo, vice-prefeito de Porto Alegre e coordenador da campanha do peemedebista. Para ele, a simplicidade de Sartori ("mostramos ele como ele é") e o sentimento de mudança, tanto entre os gaúchos quanto na eleição nacional, são elementos igualmente importantes no crescimento eleitoral da candidatura. Além disso, Melo reforça a "identificação forte" do PMDB com o Rio Grande do Sul, estado onde a sigla já elegeu três governadores – Pedro Simon, Antônio Britto e Germano Rigotto.



"A disputa eleitoral no RS reproduz modelos semelhantes aos da corrida pelo governo federal", aponta o cientista político Bruno Lima Rocha, que leciona nas instituições de ensino Unisinos, ESPM e Unifin. Segundo ele, o governo de Tarso Genro diferencia-se de outras gestões à esquerda, como a de Olívio Dutra, por não promover uma efetiva polarização. "O governo nunca esteve tão alinhado com Brasília", acentua. "É um governo de conciliação, não de ruptura. Se formos analisar, os maiores conflitos de Tarso foram com a esquerda opositiva, com grupos que lutavam por demandas sociais e não com os agentes econômicos."



Como a candidatura de Sartori também não propõe qualquer ruptura, a disputa acaba sendo menos polarizada do ponto de vista ideológico do que parece, defende Bruno Lima Rocha. "A disputa é para determinar quem pode fazer a melhor gestão possível, quem administra melhor o caixa. Não são projetos iguais, é claro, mas nenhum deles pretende qualquer ruptura. E aí a disputa passa a ser entre o PT e quem possa correr por fora para derrubar o PT."



'Sartori não tem propostas', diz coordenador petista

Bruno Lima Rocha relaciona o crescimento rápido da candidatura de Sartori não apenas a 2002 (quando, segundo o professor, a "disputa interna fratricida" que acabou impedindo Olívio Dutra de concorrer à reeleição foi preponderante), mas também às eleições estaduais de 2006, na qual Yeda Crusius (PSDB) tirou do segundo turno o peemedebista Rigotto, até então favorito à reeleição. "Sartori repete a postura de Rigotto em 2002, a de ser o candidato do coração, com um discurso despolitizado. E consegue ser o favorito dos eleitores anti-PT, além de galvanizar votos de centro geralmente simpáticos ao PT, como os do PSB. Sartori é um mito tangível. A campanha de Tarso teria que desconstituí-lo individualmente para vencê-lo, o que é muito difícil."



Para o cientista político, o que mais prejudicou Ana Amélia e a retirou do segundo turno foi uma imagem identificada demais com os poderes estabelecidos, em especial a proximidade com a ex-governadora Yeda Crusius. "Era uma candidata relativamente fácil de desconstruir. Sartori, ao contrário, tem uma boa gestão em Caxias do Sul e adota uma tática eleitoral que não abre espaço para o debate. É o 'gringo trabalhador', coloca a própria mãe no horário político, faz uma campanha com apelo publicitário muito forte."



A situação política do Brasil, em que parcelas significativas da população tiveram um ingresso despolitizado no cenário de consumo, também favorece candidatos como Sartori, opina Rocha. "Ele despolitiza o debate e, ao mesmo tempo, surfa na onda de uma despolitização que é fruto do momento político brasileiro."



"Nosso adversário não tem propostas, não tem programa de governo, não tem conteúdo. É uma candidatura genérica, vazia", diz o coordenador da candidatura de Tarso, Ary Vanazzi. É preciso, segundo o atual presidente do PT-RS, mostrar que a continuidade é mais importante no momento do que a alternância sem convicção. "Não se governa apenas falando em paz e amor. Queremos mostrar ao eleitor as contradições de Sartori e das forças políticas que o defendem, o risco que ele traz de o estado dar um passo para trás. Sartori é o candidato da Yeda, da Ana Amélia, do Britto. Sabemos que o eleitor gaúcho nunca reelege governador, mas o debate é uma boa oportunidade para quebrar isso e mostrar que não podemos desperdiçar esse momento histórico para o Rio Grande do Sul."



Sebastião Melo repudia essas colocações. "O eleitorado aqui é muito politizado. Foi a politização do eleitor que nos colocou no segundo turno", assegura o coordenador da campanha de Sartori. "Temos um histórico político que nos dá orgulho. Não precisamos e não queremos escondê-lo. Diz que não temos propostas, mas a verdade é que apresentamos cinco eixos de propostas durante a campanha que vamos esmiuçar na reta final", assegura.



Sebastião argumenta que, no começo da corrida eleitoral, a candidatura de Ana Amélia era vista pelos gaúchos como a mais capaz de retirar o PT do Palácio Piratini. "Ela acabou sendo muito atacada pelo PT, o que provocou uma mudança na escolha do eleitor", ressalta ele. Contando com o apoio da senadora no segundo turno, a candidatura de Sartori acaba unindo todos os que não desejam a manutenção do governo petista, defende o vice-prefeito de Porto Alegre. "Todos são votos da mudança. Nosso trabalho é mostrar que a mudança está do lado de cá", reforça.



Guerra na mídia

Comemorando a presença de Ana Amélia na campanha (no último fim de semana, ela gravou participações para o horário político de Sartori em rádio e TV), a candidatura peemedebista acaba ressaltando um caráter midiático fortemente presente no atual pleito. Dois dos principais candidatos eram oriundos do principal grupo midiático do estado, a RBS: além de Ana Amélia, Lasier Martins (PDT) concorreu e acabou eleito como senador, em acirrada disputa contra o ex-governador Olívio Dutra (PT). Assim, nada menos que dois ex-funcionários da afiliada da Rede Globo estarão no Senado Federal a partir do ano que vem.



Em entrevista publicada pela revista Carta Capital no final de agosto, o próprio Tarso afirmou que grupos de mídia são os novos partidos políticos do conservadorismo. "Ali se condensa um grupo de relações políticas, de pautas, de interesses econômicos, de visão da globalização e de distribuição dos interesses do capital financeiro que fazem a pauta da nação. Isso se reflete aqui no estado", disse Tarso. Para o petista, há "uma marcada sensação política no estado de que, agora, com esses dois candidatos (Ana Amélia e Lasier), eles querem ocupar o estado diretamente e não mais por terceiros".



Na visão de Ary Vanazzi, o PT sofre os efeitos de uma "guerra declarada pela grande mídia", tanto na realidade local quanto na esfera nacional. "Há um esforço de criminalização da política e do PT, uma tentativa de deslegitimar o sujeito político", lamenta o coordenador da campanha de Tarso Genro.



"Isso acirra o debate cada vez mais e é por isso que aumentam as votações de candidatos homofóbicos, e contrários aos Direitos Humanos, por exemplo. É um projeto de poder, que conta com o enfraquecimento das instituições democráticas para se fortalecer". Na opinião de Vanazzi, é preciso mostrar que "estamos diante de projetos antagônicos muito claros, no Brasil e também no Rio Grande do Sul", e que o projeto federal representado por Tarso melhorou a vida de milhões de pessoas. "Temos um compromisso com o governo Dilma e orgulho do que tem sido feito aqui e em todo o Brasil. Nossa resposta tem que ser na base do diálogo, da informação", defende.



Mantendo-se fora dessa discussão, o coordenador da candidatura de Sartori considera que a decisão de desvincular-se do PT nacional foi muito importante para permitir a ascensão do candidato peemedebista. "O eleitor gaúcho não aceita candidato em cima do muro", afirma Sebastião Melo. "O povo gaúcho está cansado do modelo político do PT, dessa campanha feita em cima de ataques. Temos orgulho do nosso legado e o PT tenta atacar o que fizemos porque não tem o que mostrar", acrescenta. Ele rejeita, porém, a ideia de que a candidatura de Sartori seja simplesmente contra o PT: "somos a favor do Rio Grande e do Brasil."



O cientista político Bruno Lima Rocha considera que a polarização em torno de ideias políticas, mesmo que eventualmente resvalando em questões privadas, é mais sadia democraticamente do que um pleito despolitizado, mas vê nas manifestações de repúdio ao PT sinais dessa falta de profundidade política. "Muitos dizem que odeiam o PT e, quando perguntados a respeito, enumeram posturas das esquerdas que não estão mais dentro do partido. O projeto de Lula, que Tarso reflete no Rio Grande do Sul, busca ocupar a política ao centro. O governo de Tarso foi, inclusive, competente nisso, já que atuou no amortecimento de demandas sociais. Mesmo assim, foi incapaz de fidelizar os agentes econômicos com quem buscou conciliar-se. Então, esse debate está despolitizado, mesmo porque não leva em conta o que PT, de fato, tem feito quando governo."



Mobilização na reta final

O coordenador da campanha petista conta com a massificação da campanha e com um bom desempenho nos debates para reverter a tendência das pesquisas nesta reta final. Dividido em 27 regionais, o esforço dos apoiadores de Tarso é triplicar o número de militantes nas principais cidades do estado, contando, para tal, até com o apoio de lideranças de siglas opositoras. "Temos prefeitos do PP e do PDT nos apoiando", comemora.



Além disso, Tarso aposta na ampliação da campanha na Grande Porto Alegre, praticamente batendo de porta em porta para conversas diretas com o eleitorado. "Muitos eleitores estão sem convicção absoluta de seu voto. Acreditamos na conversa e no diálogo para mostrar que nossa candidatura representa um projeto que melhorou a vida dos gaúchos. E esperamos a presença do Sartori em todos os debates", alfineta.



Além de dar maior destaque às propostas de Sartori, os últimos programas eleitorais da coligação que o apoia devem, nas palavras de Sebastião Melo, "responder aos ataques" da candidatura de Tarso Genro. O encontro com o candidato à presidência Aécio Neves (PSDB), ocorrido no último sábado (19), foi considerado muito importante para aproximar a imagem dos dois candidatos no Rio Grande.



Entre os peemedebistas, há também a intenção de investir no corpo-a-corpo, com caminhadas pela região metropolitana de Porto Alegre, e a disposição de manter mobilizados os núcleos de campanha nas mais diferentes regiões do estado. "Não tem jogo jogado. Os bons resultados das pesquisas não nos permitem recuo", adverte Melo. "A mobilização será diária, usando todas as ferramentas que temos: boletins, e-mail, whatsapp, telefone. Só vamos saber quem ganhou a partir das 17h de domingo."



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