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Eles não se bicam, mas nas poucas vezes em que se encontraram, Dilma Rousseff e o agora novo presidente da Câmara foram cordiais entre si; pelos próximos dois anos, ambos precisarão ter boas relações institucionais se não quiserem criar crises uma após a outra; correlação de forças sugere que Dilma terá de ceder em propostas como reforma política, regulação dos meios de comunicação e direitos civis; simples distribuição de cargos não vai barrar reinações de Eduardo Cunha; Mesa Diretora ficou toda com baixo clero e sem PT; em telefonema 'amistoso', segundo ele, Dilma o cumprimentou e abriu, minimamente, o diálogo; Cunha falou em ter 'convivência harmônica' com o Executivo'; vai prosperar?
A presidente Dilma Rousseff enviou dois sinais ao novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O primeiro foi sua ausência no plenário da Casa, nesta segunda-feira 2, onde ela poderia fazer uma saudação ao início do ano legislativo e tentar abrir, pessoalmente, canais informais de diálogo. Ao não ir, mas apenas mandar uma mensagem, Dilma evitou enfrentar um ambiente que na véspera havia imposto uma derrota em primeiro turno ao candidato petista Arlindo Chinaglia na disputa contra o deputado do PMDB. Em seguida, porém, a presidente telefonou para Cunha e reabriu a porta para uma convivência pacífica.
- Foi uma conversa amistosa, definiu ele, que mais não disse sobre o conteúdo do telefonema.
Como para não deixar dúvidas sobre a demarcação de seu território, Cunha informou que, depois de falar com a presidente, não havia conseguido atender a um chamado do ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas.
- Conversaremos em breve, resumiu o presidente recém eleito da Câmara, terceiro na sucessão da República.
Mesmo que tenham tido rápidos encontros nos últimos anos, é sabido que Dilma e Cunha não se bicam. A presidente desaprovou a atuação do parlamentar, como líder do PMDB, em diferentes votações, no ano passado, de temas cruciais para o governo. Cunha, na prática, liderou grandes rebeliões parlamentares que culminaram com o massacre de 267 votos a favor dele contra 136 para seu adversário do PT.
Depois de compor uma Mesa Diretoria com integrantes das alas mais conservadoras do parlamento e grande representatividade no chamado 'baixo clero', Cunha não cedeu uma só cadeira ao PT, mas prometeu em discurso que está disposto ao diálogo e não tem intenção de ser beligerante.
DISTRIBUIÇÃO DE CARGOS NÃO TERÁ EFEITO - A presidente Dilma não tem outra alternativa, no momento, a não ser acreditar nestas intenções. Ela soube que entrou em uma enrascada quando as forças governistas não conseguiram reunir votos nem para atingir um segundo turno. Nesse quadro, não será uma distribuição de cargos no Executivo a indicados por parlamentares que irá mudar a cena de maneira significativa.
Pelo que aponta a nova correlação de forças, Dilma terá de orientar o que restou dos governistas a promover um recuo diante de bandeiras como uma ampla reforma política, a regulação dos meios de comunicação e novas conquistas no campo dos direitos civis. Buscar enfrentar esses temas agora poderia soar como uma provocação ao novo presidente da Casa. Ele, porém, ainda não apresentou sua própria agenda. Quando Cunha mostrar quais são seus primeiros temas de interesse, o governo terá uma dimensão melhor do tamanho da guerra que ele poderá promover – ou seguir numa posição de armistício, na qual o diálogo entre Dilma e Cunha, no interesse da estabilidade institucional, teria uma chance de prosperar.
Por enquanto, com os ânimos ainda acirrados, o que se tem é um resultado democrático que apresentará todos os seus desdobramentos ao longo do tempo. Habilidoso e craque no regimento parlamentar, Eduardo Cunha poderá ser um dos mais fortes presidentes da Câmara dos últimos tempos – ou perder-se em embates menores alimentados pelas diferenças de estilo entre ele e Dilma.
Até que ponto Cunha irá querer esticar a corda da tensão entre o Legislativo e o Executivo, isso é o que Dilma começará a sentir às novas cartas que ele baixar. As primeiras votações já começam nesta terça-feira 3. Cunha poderá escolher entre dar uma trégua à presidente, o que não parece ser do seu estilo, ou acelerar ainda mais as diferenças.
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