20/7/2022 12:32

Ciro oficializa sua candidatura à presidência isolado e sem alianças e sem vice definido

812 visitas - Fonte: Valor Econômico

Sem alianças com outros partidos, sem vice definido e com palanques competitivos apenas no Maranhão e no Ceará - os únicos onde os candidatos a governo ultrapassam dois dígitos -, o PDT realiza hoje sua convenção para confirmar a candidatura presidencial de Ciro Gomes.

Será a quarta vez que Ciro, que foi ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e da Integração Nacional do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disputa a Presidência da República - as outras foram em 1998, 2002 e 2018. Apesar de nunca ter chegado ao segundo turno da disputa, Ciro alcançou percentuais de voto maiores a cada eleição (10,9%, 11,9% e 12,4%, respectivamente). A polarizada disputa de 2022, com Lula e o atual presidente, Jair Bolsonaro, dominando as atenções, ameaça interromper esse desempenho crescente de Ciro.


Um dado trazido pelo Datafolha no fim de junho é especialmente desalentador ao candidato. Ciro aparece consistentemente como a segunda opção de voto dos eleitores de quase todos os adversários, incluindo os de Lula e Bolsonaro. Contudo, 79% dos que dizem escolher o petista afirmam que não mudarão mais seu voto, bem como 78% dos que preferem a reeleição do presidente se dizem convictos dessa escolha. Já entre os potenciais eleitores de Ciro Gomes, 66% dizem que ainda podem trocar de candidato, sendo que destes, 44% migrariam para Lula e 12% para Bolsonaro. O temor de uma debandada de apoios por conta do afunilamento da disputa, com eleitores optando por um “voto útil” nos ponteiros para concluir a eleição presidencial ainda no primeiro turno, é o principal fantasma para a campanha do pedetista.

Desde o ano passado, Ciro manteve conversas com PSD e União Brasil, que lhe foram claros em dizer que o consideram preparado, mas que só discutiriam apoio caso ele se mostrasse competitivo nas pesquisas até o início do semestre. “Eu acredito, com toda humildade, que eles só terão uma definição perto de julho, porque eles querem ver se eu atravesso o Rubicão, se eu me viabilizo”, disse o candidato em abril. Julho chegou, o cenário permaneceu igual, o PSD ruma para se manter neutro e o União Brasil marcou o lançamento da candidatura de Luciano Bivar para o último dia do prazo para as convenções, em 5 de agosto.


Com marketing do publicitário João Santana, ao custo atual de R$ 315 mil mensais, o candidato do PDT tentou novas abordagens para angariar apoio. Sentado em sua cadeira “gamer”, Ciro encheu as redes com “reacts” (vídeos em que reage à fala de outras pessoas), faz “lives” semanais (nomeadas com o trocadilho “CiroGames”), participou de podcasts e até entrou em debates ruidosos com o humorista e apresentador Gregório Duvivier, que foi seu eleitor em 2018 e agora prega o “voto útil” em Lula.

Aliados de Ciro reconhecem que o presidenciável chega a convenção com a pré-candidatura enfraquecida, especialmente em função da ausência de alianças com outros partidos. Conta a favor do pedetista, avaliam, o fato dele ser o primeiro a formalizar sua participação no pleito nacional, garantindo exposição.


Durante a convenção, Ciro deve focar na apresentação do plano de governo e destacar suas diferenças programáticas em relação aos demais candidatos - explicando inclusive que ele está concentrado na formulação de ideias e alheio às picuinhas protagonizadas por adversários.

O candidato defenderá reformas estruturantes, com a recomposição fiscal brasileira, a taxação de lucros e dividendos e a diminuição de incentivos fiscais.

Ciro deve ainda defender uma reforma tributária que diminua o peso sobre o consumo e concentre em renda e patrimônio. “Como já vem fazendo desde o ano passado, Ciro deve ter como principal tarefa daqui para frente se mostrar uma alternativa à polarização vista até o momento. Como? Deixando claro ao eleitorado que ele é o único que tem um plano de governo robusto”, avaliou o deputado federal Mauro Benevides Filho (CE), assessor econômico do candidato. Além disso, deve apresentar ideias relacionadas à redefinição do pacto federativo e a reestruturação da dívida de Estados e municípios.


Após a participação da convenção, os esforços de Ciro estarão concentrados em viagens pelo país. Sobre a definição do candidato a vice-presidente na chapa, se mantida a tendência a não fechar alianças, as opções neste momento são a senadora Leila Barros (DF), que é pré-candidata ao governo do Distrito Federal, e Suely Vilela, que foi reitora da Universidade de São Paulo.

Com o início da propaganda eleitoral gratuita, o candidato do PDT deve ter apenas o quinto maior tempo de exposição em rádio e TV, em torno de 50 segundos, e entre uma e duas exposições em inserções diárias nos intervalos comerciais das emissoras. A expectativa dos aliados de Ciro Gomes é que ele chegue a algo próximo de 14% até o fim de agosto.


A convenção do PDT para confirmação da candidatura de Ciro ocorrerá em Brasília e será a primeira no calendário de eventos com esse propósito e que vão até 5 de agosto. Amanhã (21), o PT oficializa a candidatura de Lula, em São Paulo; Janones e Avante farão a convenção em Minas Gerais no sábado (23). O PL confirmará a candidatura de Bolsonaro à reeleição no domingo (24), no Rio; e o MDB faz sua convenção para chancelar Simone Tebet de forma virtual na próxima semana (27).

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