546 visitas - Fonte: O Globo
RIO e CURITIBA — A explosão de casos de coronavírus arrastou Curitiba mais uma vez para o estado de bandeira vermelha. Assim como ocorreu entre o fim de março e o início de abril, a prefeitura permitirá, até o dia 9 de junho, o funcionamento apenas de serviços essenciais. Ontem, o município já acumulava 215 mil infecções e contava com uma taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 de 104%. É um retrato semelhante ao visto em todo o Paraná, onde esse índice, na semana passada, chegou a 95%.
Os estados do Centro-Sul do país foram os mais vitimados pelo último pico da pandemia de Covid-19, observado em março. No Paraná, o número de óbitos dobrou em 79 dias. Em Santa Catarina, em 85. E, no Rio Grande do Sul, em 97.
O sistema de saúde desses estados terá pouco tempo para se recuperar do colapso, já que, segundo especialistas, a chegada do inverno, daqui a três semanas, provocará um novo pico da pandemia.
— A Covid-19 mudou de perfil e agora atinge jovens, que viajaram no carnaval e provocaram aglomerações em cidades litorâneas. Somam-se a isso a circulação de variantes do coronavírus e o relaxamento de medidas restritivas de circulação, e atingimos agora o esgotamento do sistema de saúde —destaca Alexandre Vargas Schwarzbold, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia no Rio Grande do Sul.
Com a chegada do frio, segundo Schwarzbold, as pessoas tendem a passar mais tempo em locais fechados, o que pode aumentar o número de infecções e gerar um novo pico de óbitos de agosto.
Christovam Barcellos, sanitarista e coordenador do MonitoraCovid-19 da Fiocruz, destaca que o inverno é muito mais rigoroso no Sul do que no resto do país, proporcionando a disseminação de enfermidades respiratórias, como a pneumonia e a asma.
— Alguns mecanismos de defesa do organismo são comprometidos no inverno, facilitando o acesso do vírus às vias respiratórias e sua penetração no pulmão — explica Barcellos, que teme a sobrecarga do sistema hospitalar. — As doenças crônicas e autoimunes terão que competir por atendimento médico com a Covid-19.
De acordo com Barcellos, o Sul do país caminha para o quarto pico da pandemia. O primeiro ocorreu entre agosto e setembro do ano passado, meses após a doença se disseminar pelo resto do território nacional. A taxa de contágios passou por novas elevações em dezembro e março, durante ou pouco após feriados.
— As pessoas ficam em casa durante o inverno, os ônibus circulam com as janelas fechadas. Esse cenário proporciona a difusão do vírus — descreve. — O inverno também pode provocar um aumento de casos no Centro-Oeste, onde o ar fica mais seco durante a estação. A circulação do vírus também é facilitada nessa condição climática, podendo desencadear sintomas mais graves.
Tratamento em UPA
Para enfrentar o tsunami de pacientes, a prefeitura de Curitiba fechou ontem suas seis Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) para o atendimento geral. As instalações, agora, serão dedicadas exclusivamente à Covid-19.
Quem procura assistência que não seja relacionada à doença é direcionado para as Unidades Básicas de Saúde, que praticamente viraram prontos-socorros. O operário Anderson Oliveira de Sobral, de 25 anos, buscou atendimento na UPA do bairro Boa Vista com os pés inchados e escoriações nas duas pernas, mas não foi atendido.
— Tenho lúpus, e de vez em quando esse problema aparece. Preciso de atendimento, de antibiótico — explica.
Nos últimos dias, pacientes com Covid-19 das UPAs de Boa Vista e do bairro Campo Comprido tiveram de ser amarrados aos leitos durante o procedimento de intubação porque faltavam bloqueadores neuromusculares, que relaxam os músculos e impedem movimentos bruscos.
Profissionais da saúde relataram problemas de infraestrutura, como a falta de monitor, oxímetro e respirador na UPA do bairro Sítio Cercado. Na unidade do Pinheirinho, os pacientes ficam sentados em cadeiras de plástico por horas e sem distanciamento adequado. Alguns, segundo as enfermeiras, poderiam receber alta, mas continuam no local por falta de médicos que os liberem.
— Hoje os pacientes graves são mais jovens e ficam duas a três semanas internados. Os leitos não giram com velocidade suficiente para a demanda — ressalta Rafael Deucher, presidente da Sociedade Paranaense de Terapia Intensiva.
O atendimento para casos de Covid-19 em UPAs divide opiniões. O presidente da Federação dos Hospitais do Paraná, Flaviano Feu Ventorim, elogia a estratégia:
— Os hospitais de campanha são pouco efetivos e resultaram em malversação de dinheiro público. O Paraná e Curitiba adaptaram os hospitais e as UPAs, e converteram leitos [clínicos] em leitos de UTI e a rede privada foi chamada para apoio.
Deucher, porém, ressalta que a qualidade do serviço nas UPAs é inferior à dos hospitais.
A servidora estadual Helia Loreta Correa, de 57 anos, é uma das 26 mil vítimas da Covid-19 no Paraná. Morreu em 22 de abril, após mais de duas semanas internada.
— Ela não estava saindo de casa. Só acompanhava a irmã, que fez transplante de rim, no hospital — conta a sobrinha Michele Pereira, de 44 anos. — Era questão de 20 dias até chegar a vez da minha tia tomar a vacina. Ela estaria viva.
*Especial para O GLOBO
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