Violência em Recife desafia candidatura de Campos

Portal Plantão Brasil
15/5/2014 14:23

Violência em Recife desafia candidatura de Campos

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929 visitas - Fonte: Brasil 247

A greve de policiais militares e bombeiros de Pernambuco já pesa sobre a campanha do ex-governador Eduardo Campos; presidenciável do PSB tem como uma de suas bandeiras o Pacto Pela Vida, mas terá que arcar com o desgaste provocado pela violência que se seguiu ao movimento de paralisação; servidores criticam condições de trabalho a que são submetidos; tropas federais convocadas para garantir ordem no Estado, especialmente em Recife; cenas de violência colocam em xeque bons resultados da experiência que é reconhecida internacionalmente como exemplo para a área de segurança pública; como Campos irá reagir a esta surpresa negativa?



A greve de policiais e bombeiros militares de Pernambuco, que entra sem eu segundo dia de paralisação, deverá ter repercussões não somente junto à população, mas também para a campanha presidencial do ex-governador Eduardo Campos (PSB). Campos, que tem como uma de suas principais bandeiras de campanha o Pacto Pela Vida, experiência na área de segurança pública reconhecida internacionalmente e que resultou na melhoria dos indicadores de segurança no Estado, terá que arcar com o desgaste provocado pela violência e pela chegada de tropas federais a Pernambuco para manter a ordem. Outra implicação está junto aos próprios grevistas, uma vez que começam a ganhar corpo as especulações de que líderes do movimento tentam se cacifar politicamente para se candidatar nas eleições de outubro.



“O fator humano é fundamental. Cobrou-se muito da tropa para que as metas do pacto fossem cumpridas e chegou-se a um bom resultado. Mas faltou cuidar do homem que está na linha de frente. Vendeu-se Pernambuco como uma maravilha na área de segurança e a realidade é que tem muito de castelo de areia. E agora está aí o resultado”, analisou uma fonte em reserva ao Pernambuco 247, referindo-se aos saques, arrastões e homicídios registrados nas primeiras 48 horas de paralisação em toda a Região Metropolitana do Recife.



Implantado ainda no primeiro mandato de Campos, o Pacto Pela Vida engloba a redução da violência, com integração de políticas na área social, educacional e social, além de metas preestabelecidas, em especial as relacionadas aos crimes violentos letais intencionais (CLVI) e os resultados são significativos. O Estado, que em 2008 era o segundo mais violento do País tornou-se o mais seguro do Nordeste em 2012. O efetivo também foi ampliado mediante a contratação de pessoal para as Polícias Civil e Militar, além do Corpo de Bombeiros. De acordo com informações do próprio Governo do Estado, foram realizadas 8,3 mil contratações apenas para a PM e Bombeiros. Um acordo, firmado em 2011, junto a categoria e que previa reajustes sistemáticos também teria sido cumprido. Somente neste exercício, este reajuste seria de 14,55%, índice três vezes acima da inflação do período.



“O governo não foi pego de calça-curta. Desde o início do ano fala-se na possibilidade de uma greve. Não existe uma política permanente de valorização dos policiais sejam eles civis ou militares. As gratificações são temporárias. Veja o Bolsa Copa do Governo federal. Vale para junho e julho, mas e depois? A segurança vale para o período em que os turistas estarão por aqui e não vale para a população no restante do ano?”, questiona o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE), Cláudio Marinho.



Apesar de reconhecer os bons resultados do Pacto Pela Vida, Marinho diz que a insatisfação é grande entre a categoria. “A Polícia Civil tem cerca de 5,6 mil homens atualmente. O detalhe é nos últimos sete anos, o equivalente a 38% do efetivo pediu exoneração”, afirma. Segundo ele, os baixos salários e a pressão pelo cumprimento das metas são as principais razões alegadas pelas baixas na corporação. O salário base do policial civil é de R$ 1,8 mil, sendo elevado no mesmo valor pela gratificação de risco de vida.



Já na Polícia Militar, que conta com quase 20 mil homens, o soldo para o soldado chegará a R$ 2,9 mil, em junho, em função do acordo de 2011. Já a categoria, pleiteia um amento de 30 para a tropa e 50% para os oficiais, dentre outras reivindicações, como a incorporação de gratificações, aumento do valor do vale alimentação e melhorias no sistema de saúde da corporação.



A insatisfação da tropa explodiu na noite da última terça-feira (13), quando a categoria entrou em greve. Na manhã seguinte, os militares de serviço não foram às ruas, permanecendo aquartelados. No final da tarde foram registrados os primeiros saques e arrastões. O caso mais grave foi registrado em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife, quando cerca de 300 pessoas saquearam lojas e caminhões, além de realizarem assaltos a motoristas e pedestres.



No início da noite um acordo entre o Governo do Estado e as lideranças do movimento foi fechado, mas acabou rejeitado pela tropa que votou, em assembleia, pela manutenção da paralisação. Sem outra alternativa, o governador João Lyra Neto, que assumiu o cargo há cerca de três meses, após a desincompatibilização de Eduardo Campos em função do seu projeto nacional, pediu apoio de tropas federais para garantir a segurança da população. Os primeiros homens da Força Nacional de Segurança desembarcaram no Recife no início da manhã desta quinta-feira (13) e já começaram a atuar. Novos reforços são esperados ao longo do dia.



“O momento é delicado. Tem que refletir, pensar e negociar. Não é o momento de politizar esta questão. A bomba caiu no colo de Lyra (governador João Lyra) e temos que estar empenhados em ajudar a resolver a situação”, ressaltou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), ao Pernambuco 247. "Sabemos do empenho e do compromisso do governador em resolver esse impasse com a Polícia Militar, mas, enquanto durar o movimento,o Governo Federal será um parceiro incondicional do Estado para a manutenção da ordem”, disse Humberto referindo-se ao envio de tropas da Força nacional de Segurança para manter a ordem no Estado até que a situação seja normalizada.



O senador Armando Monteiro Neto (PTB), postulante ao Governo do Estado, disse, em entrevista aos jornais locais, que “não se deve levar a greve para o debate eleitoral”, muito embora tenha criticado a defasagem salarial dos policiais em comparação com a praticada em outros estados. Já o socialista Paulo Câmara (PSB) disse “confiar no diálogo e na transparência das informações para que Governo e a Polícia militar cheguem a um entendimento visando o bem-estar e a segurança da população”. Nenhum dos candidatos comentou as reivindicações ou apresentou propostas para a categoria.



O ex-governador Eduardo Campos foi procurado mas não foi localizado para comentar a situação e as críticas contra uma de suas principais bandeiras de campanha. Em entrevista a uma rádio da Região Metropolitana de São Paulo, Campos não comentou a greve dos policiais pernambucanos, embora tenha exaltado os resultados do Pacto Pela Vida. "Foi o único estado do Nordeste [Pernambuco] e o único do Brasil que reduziu em sete anos os índices de violência”, destacou.



A politização da questão ficou a cargo das lideranças do movimento. Criada há quase 20 anos, a Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco (ACS-PE) está atualmente sem direção em virtude da denúncia de irregularidades promovidas pela última gestão. A direção é exercida atualmente por interventores nomeados pela Justiça que já estão à frente da instituição há mais de seis meses. A eleição da nova diretoria está marcada para o próximo dia 30.



O atual movimento grevista tem uma liderança dispersa, sendo o soldado Joel Maurino um dos mais destacados e que não descarta a possibilidade de disputar a presidência da ACS-PE. Já pelo lado dos oficiais – e que também conta com a simpatia da tropa – está a tenente-coronel Conceição Antero, ex-esposa do atual comandante geral da PM, coronel José Carlos Pereira. Segundo informações, Conceição foi responsável por insuflar a categoria para não aceitar os termos do acordo que havia sido fechado no início da noite de ontem.



“O estado já perdeu em março porque não reduziu o número de homicídios e ainda teve acréscimo em abril. A responsabilidade não é da tropa. Passei mais de quatro anos participando das reuniões do Pacto Pela Vida e sempre levava os problemas, como falta de equipamentos e viaturas. Ninguém escutava (...) Avisei que a tropa estava cansada de tanta pressão em 7 anos, 365 duas e 24 horas. Ninguém aguenta”, disparou a tenente-coronel durante a manifestação desta quarta-feira em frente ao Palácio do Campo das Princesas. Segundo pessoas ligadas ao movimento, ela teria pretensões de se candidatar ao cargo de deputada estadual nas próximas eleições. Conceição Antero responde por um processo de indisciplina junto a corporação.



Apesar da cautela política, a situação tem tudo para ser usada como arma de campanha, seja pelos policiais, ou pelos adversários do PSB. As cenas de saques e arrastões, a crescente sensação de insegurança, a suspensão das atividades comerciais no centro da cidade e em muitos bairros da periferia da RMR, formação de grupos de milicianos para defender lares e estabelecimentos comerciais, e a chegada de tropas federais para assegurar a ordem faltando cerca de cinco meses para as eleições majoritárias estaduais e nacional formam um caldo praticamente impossível de não ser explorado politicamente.



Como o PSB lidará com a questão e se irá conseguir sair desta situação com poucos arranhões isto ainda é uma incógnita. A situação coloca em xeque a imagem do Pacto Pela Vida a despeito dos bons resultados obtidos pelo programa ao longo dos sete anos de atividades. Até porque para o eleitor, o efeito da greve será lembrado de forma mais recente e isto terá uma influência significativa na hora do voto.



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