Em entrevista, Lula criticou a reforma trabalhista aprovada após o golpe de Estado de 2016

Portal Plantão Brasil
19/4/2022 22:28

Em entrevista, Lula criticou a reforma trabalhista aprovada após o golpe de Estado de 2016

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1084 visitas - Fonte: Brasil 247

O ex-presidente Lula (PT), em entrevista à rádio Conexão 98 FM, de Palmas (TO), nesta terça-feira, 19, criticou a reforma trabalhista aprovada após o golpe de Estado de 2016 e que aumentou o desemprego no Brasil.

“Lamentavelmente o que eles fizeram foi a destruição dos direitos conquistados [pela CLT em 1943], oferecendo ao trabalhador nada: emprego intermitente e a ideia do empreendedorismo, como se você entregar comida numa moto ou numa bicicleta, se você trabalhar no Uber, fosse empreendedorismo”, denunciou.


“O trabalhador não tem nenhum direito, nenhuma seguridade social, não tem descanso semanal remunerado, não tem férias, não tem 13º, não tem Natal, não tem Ano Novo, ou seja, nós voltamos quase a um tratamento do tempo da escravidão”, criticou. Mas ele complementou que não se trata de revogação da reforma trabalhista, e, sim, de construir uma relação de trabalho que leve em conta os avanços tecnológicos e diretos dos trabalhadores.

Lula lembrou de sua recente reunião com sindicalistas, destacando que seu projeto político implica em “reconstruir uma relação de trabalho moderna, que leve em conta o mundo do trabalho de hoje e os avanços tecnológicos”. Ele defendeu que, ao contrário do que está sendo feito atualmente, “os trabalhadores precisam ser tratados com respeito, com direitos, não podem ficar reféns sem ter nenhuma seguridade social”.


Por isso, o ex-presidente disse que vai criar “uma mesa de negociação entre governo, empresários e sindicatos, e se for necessário trazendo as universidades, para que a gente construa uma nova relação de trabalho, mais civilizada, mais moderna, mais humanitária”.

O petista relembrou sua trajetória como líder sindical no fim dos anos 1970, quando liderou as maiores greves no período da ditadura militar, para falar sobre a luta pela melhoria das condições dos trabalhadores do país. “Eu tive a felicidade de ser dirigente sindical entre os 70 e 80. E sempre briguei com os empresários para que a gente não tivesse uma reforma trabalhista ao ponto de a gente destruir tudo aquilo que a classe trabalhadora acumulou de conquistas desde 1943 com a introdução da CLT”, disse.


Eleições

Lula ainda comentou sobre a situação eleitoral, falando sobre as recentes pesquisas eleitorais que, apesar de apontarem-no como favorito para o pleito deste ano, mostram Jair Bolsonaro (PL) se aproximando.

“Eu não me entristeço com pesquisa. Tenho um trabalho a fazer. A campanha está começando. Temos todas as condições de ganhar as eleições pelo histórico do que nós fizemos nesse país quando nós governamos, pela qualidade de vida que foi oferecida ao povo do estado do Tocantins e de todo território nacional. Estou muito otimista”, disse.


Campanha eleitoral

“Vai ter o lançamento da minha candidatura no próximo dia 7 de maio aqui em São Paulo e depois eu pretendo percorrer o Brasil. Não quero ficar fazendo live, quero percorrer o Brasil, abraçar, beijar, cumprimentar o povo de cada estado brasileiro, pois essa relação química, da relação entre os seres humanos, que vai fazer com que o povo decida em quem votar”, defendeu.

“Vou continuar conversando com todas as forças políticas. O que está em jogo, na verdade, é continuidade de um modelo de governança fascista, com um governo que não conversa com ninguém [...] e um presidente que não conversa com sindicato, empresário, prefeito, governador, o movimento social como um todo e que odeia a democracia, a civilidade e os direitos humanos”, argumentou.

Segundo Lula, “o país precisa de alguém que coloque um pouco de paz nesse país. Uma reflexão madura sobre fraternidade, solidariedade, crescimento econômico, desenvolvimento, geração de emprego, distribuição de renda. Coisas que precisam ser discutidas no Brasil”.


Terceira via

Ele ainda afirmou que não acredita que surja uma terceira via. “Acho que vai ser uma eleição polarizada, mas a gente não tem que ter medo da polarização. Tivemos um jogo polarizado entre o Flamengo e o São Paulo domingo, entre o Liverpool e o Manchester City, na Inglaterra. A polarização existe sempre que tem duas pessoas disputando, dois times jogando, dois países em conflito. É preciso que a gente explique para o povo o que está em jogo: a recuperação e a reconstrução do Brasil, a volta da democracia, da tranquilidade, da cultura, da educação, do desenvolvimento científico”, destacou.

Alckmin

Lula também elogiou o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), que deve ser vice em sua chapa. “Eu acho que o Alckmin vai ser um vice excepcional. Tem experiência e governou o estado de São Paulo. É um homem que acho que vai ajudar a consertar esse país. Estou convencido que ele será um extraordinário vice”, disse.

No entanto, Lula se recusou a compará-lo com seu vice de quando foi vitorioso nas eleições de 2002 e 2006, José Alencar. “Não vou fazer comparação entre Alckmin e José Alencar, porque o José Alencar era uma pessoa muito especial na minha vida, mas tenho certeza que o Alckmin vai me ajudar a fazer esse país voltar a crescer e voltar a ser feliz”, continuou.


Tocantins

O ex-presidente ainda falou sobre as eleições regionais no Tocantins. O PT deve apoiar um candidato próprio, o deputado Paulo Mourão, mas destacou que está “tentando fazer os acordos necessários” e que não pode “ter pressa”. Nesse sentido, ele comentou sobre a senadora Kátia Abreu (PP), que deve ser candidata ao governo. “Foi muito solidária à presidenta Dilma Rousseff [...] Não tem problema nenhum em conversar com Kátia Abreu”, mas se ela decidir sair por outra chapa, “vamos estar em palanques diferentes”.

Economia

Lula voltou a defender a inclusão do pobre no orçamento. “O que nós fizemos de milagre nesse país, foi colocar o povo no orçamento. Começou a ganhar dinheiro, começou a consumir, o comércio começou a vender, as empresas começaram a produzir mais, o comércio e a indústria geravam emprego a mais, pagavam um salário a mais. Isso foi criando uma dinâmica na roda gigante da economia, que deu salto de qualidade”, afirmou.

Ainda registrando os feitos do governo petista, Lula falou das políticas de créditos que levantaram a economia e destacou que o “Minha Casa, Minha Vida foi o maior programa de construção de casa habitacionais para pessoas mais humildes que o país já conheceu”, mas “acabou qualquer perspectiva de induzir o crescimento econômico”.


Investir no desenvolvimento

“Nós precisamos ter em conta que não existe saída para o Brasil se ele não voltar a crescer [...] o governo precisa ter iniciativa de colocar dinheiro para movimentar a economia [...] O governo tem que ser o indutor do desenvolvimento”, argumentou.

Questionado sobre dívidas públicas, ele destacou que o governo pode fazer empréstimos para pagar obras e promover o desenvolvimento, pois a dívida será paga quando os projetos forem finalizados. “O que não dá é para ficar paralisado”, disse.

“O Brasil tem que ser consertado e quem vai consertar é um governo que saiba como consertar. Chamar empresários e discutir um programa de desenvolvimento e investimento. Ter credibilidade para convencer empresários a virem investir em projetos novos, rentáveis, que signifiquem melhoria da qualidade da infraestrutura desse país”, continuou.

“É preciso ter projeto. Qual é o projeto que tem o atual governo? Qual é o grande projeto de desenvolvimento e infraestrutura? Não existe. Se não existe projeto, não existe investimento. A única coisa que eles fazem é colocar o patrimônio público, que é do povo, a venda”, afirmou. “Não para vender o que está construído. É para fazer coisas novas, gerar novos empregos, patrimônios e riqueza para o país”, reforçou.


“Não acredito que tenha qualquer empresário sério defendendo a política de desenvolvimento do Bolsonaro. Não existe política de desenvolvimento do Bolsonaro, o que existe é uma política de venda daquilo que foi construído [...] não tem política industrial”, disse Lula, registrando que, após o golpe, as obras do PT foram paralisadas.

“Como não tem governo, não tem projeto. Como não tem projeto, não há investimento. Não há como defender o governo brasileiro lá fora. Lá fora o nosso governo não tem relação com ninguém”, declarou, completando que “não existe credibilidade nenhuma por parte desse governo”.

Lula lembrou que, enquanto seu governo também favoreceu os empresários e produtores, “a única coisa que o Bolsonaro se vangloria foi de ter feito um decreto liberando armas”. “Eu, se for presidente, vou fazer um decreto doando livros, para que as pessoas sejam mais cultas, estudem mais e possam se qualificar”, disse.


Desindustrialização

“É preciso fazer investimento em ciência e tecnologia, mais universidades e escolas técnicas”, afirmou o ex-presidente, completando que “isso acabou e as universidades hoje não têm dinheiro para cortar a grama da porta e as escolas técnicas estão falindo”. “O Brasil já teve 30% do seu PIB ligado à indústria. Hoje nós temos 10%, perdemos 20%. Por que? Porque nós perdemos a oportunidade de fazer investimentos em ciência e tecnologia”, argumentou.

“Nós precisamos tirar o atraso e fazer investimento, para que a gente possa daqui a 10 ou 15 anos ter uma nova geração de pesquisadores, engenheiros, cientistas para que a gente possa discutir nichos de indústrias que possam ser competitivos no mercado internacional. O Brasil não quer ser só exportador de commodities, quer produzir também produtos de valor agregado”, afirmou, lembrando que a venda de produtos industrializados aumentou durante seu governo. “Mas as indústrias vão fechando porque a economia não cresce”, declarou.

Lula ainda lembrou da situação do Brasil quando ele assumiu o governo em 2003, com desemprego e alta crise econômica, mas que mesmo assim pagou a dívida com o FMI, fez uma reserva internacional “que o Brasil nunca tinha tido na sua história de 370 bilhões de dólares”, registrou superávit primário durante todo governo petista, reduziu a dívida pública interna, “aumentando o salário mínimo todo ano e fazendo a maior política de inclusão social que o Brasil já viu e que o Tocantins já viu”.


Programas sociais

Sobre programas sociais e a comparação do Auxílio Emergencial, de Bolsonaro, com Bolsa Família, do PT, Lula afirmou que o programa que ele criou era para melhorar a vida da população, com condicionantes, enquanto “o que Bolsonaro está fazendo é um programa de transferência de dinheiro com a perspectiva simplesmente eleitoral”. “Até quando isso vai durar? Até acabar as eleições? Então não é possível criar programas assim”, completou.

Desemprego

Em relação ao desemprego, Lula afirmou que pretende reunir os governadores dos estados para montar um plano. “Se eu ganhar as eleições, quero reunir os governadores dos estados, estabelecer um compromisso, de eles levantaram as coisas mais importantes para cada estado para que a gente possa pactuar” para derrotar o desemprego, entre outros problemas.

“Somente o emprego dá dignidade à família brasileira”, destacou. “Quando eu fui presidente, nós geramos 22 milhões de empregos com carteira assinada profissional”, lembrou, destacando que isso permitiu que a Previdência fosse superavitária por conta disso.


Preços dos combustíveis

Lula ainda disse que “o Brasil não tem nenhuma necessidade de os preços [dos combustíveis] estarem vinculados ao dólar e ao preço internacional”. O ex-presidente destacou que, quando ele estava no governo, durante a crise de 2008, quando o barril do petróleo chegou a US$ 147, o litro da gasolina no Brasil era R$ 2,60. Por isso, os atuais preços altos dos combustíveis “não têm nada a ver com a guerra da Ucrânia”.

Ele lembrou que o Brasil é autossuficiente em petróleo e destacou que a matéria-prima “é prospectada em real, as sondas são feitas em real, os trabalhadores ganham salário em real”, e, por isso, “não tem explicação dolarizar, apenas para aumentar dividendos para acionistas, quando uma parte deveria ser transformada em novos investimentos”.

“Se eu voltar a governar esse país, vamos abrasileirar os preços do gás, do óleo diesel, da gasolina, porque não tem sentido alguém pagar R$ 122 num botijão de 13 litros de etanol, cozinhando no meio da rua com fogão de lenha, com tijolo e lenha”. “O gás tem que ser considerado um bem de cesta básica”, reforçou. “Nós não temos governo, é preciso refazer a democracia, reconstruir a governança e fazer com que esse país viva bem”, destacou.

O ex-presidente Lula ainda denunciou a privatização da BR Distribuidora e da Liquigás e as “392 empresas que estão importando gasolina dos EUA a preço em dólar”. “As nossas refinarias têm que voltar a refinar, se for necessário fazer novas refinarias, nós somos autossuficientes em petróleo e não temos que penalizar o povo brasileiro”, destacou.


Segundo ele, isso é “irresponsabilidade governamental”, pois “temos um presidente que a única coisa que ele faz é levantar cedo e fazer fake news, a maior gerência dele é de mentir”. “É preciso ter um governo que tenha sentimento, sensibilidade de fazer com que as pessoas recebam o que a inflação está tirando delas”, completou.

Corrupção

Sobre a corrupção e as acusações contra o PT, Lula lembrou que durante o seu governo e o governo da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) “nós criamos todos os instrumentos para acabar com a corrupção nesse país”. “A Lei da Transparência fomos nós que fizemos, e vocês, jornalistas, poderiam saber o tipo de papel higiênico que eram utilizados no Palácio do Planalto. A Lei da Delação fomos nós que fizemos”, continuou.

Ele lembrou que “só se sabe de determinadas coisas quando alguém denuncia, ou quando pegar, ou quando alguém grita”, mas lembrou da corrupção no governo Bolsonaro, que ignora denúncias e, em vez de mandar apurar, protege familiares e amigos suspeitos de atos ilícitos, além de decretar sigilo de 100 anos para que ninguém possa saber.

Lula lembrou que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, envolvido no caso das rachadinhas, Fabrício Queiroz ainda não foi ouvido; do sigilo no caso do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, “que fez maracutaia na vacina”; do sigilo de 100 anos envolvendo a família Bolsonaro.“Você sabia que para todas as maracutaias eles decretam sigilo por 100 anos? É a coisa mais absurda que acontece nesse país”, disse.


Lula defendeu que todas as denúncias sejam investigadas e disse que corrupção só aparece quando se levanta o tapete da sala. “Se aconteceu alguma coisa, investigue. Se alguém cometeu um erro, que pague o preço pelo erro que cometeu. Essa é a lógica. E denúncia de corrupção, ela só aparece quando você tira o tapete da sala”, afirmou.

“Cada coisa que acontecia no nosso governo, eu tinha orgulho de mandar investigar. Investiga tudo. Só tem um jeito de você não ser punido. É você ser honesto. Não houve nada no nosso governo que não foi apurado e sempre será assim”, continuou.

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